Nesta segunda-feira (21) a Santa Casa de Campo Grande, maior hospital do estado conveniado com o Sistema Único de Saúde (SUS), voltou a registrar superlotação nos leitos de UTI Neonatal. A instituição possui 13 leitos cadastrados, mas tem atendido muito acima da capacidade. Pela manhã, 11 bebês aguardavam vagas em leitos de UTI, de acordo com o hospital.
A assessoria de Comunicação da Santa Casa informou que sete recém nascidos permanecem no Centro Obstétrico aguardando vagas para a Unidade de Cuidado Intermediário Convencional (Ucinco). Outros quatro bebês foram internados na área vermelha do Pronto-socorro pediátrico, aguardando a liberação de leitos na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTI), sendo que três deles estão intubados e um recebeu cateter nasal.
A situação é considerada gravíssima pela direção técnica da unidade hospitalar que, somente no ano passado, enviou cerca de 40 ofícios às autoridades da saúde pública informando a situação de superlotação nos leitos neonatais e no Centro Obstétrico. “Já pelo Núcleo Interno de Regulação (NIR), foram aproximadamente 400 registros de falta de vagas enviados, isso considerando que, em alguns casos, essa formalização era diária”, informou a nota do hospital.
O médico e diretor técnico da Santa Casa de Campo Grande, José Roberto de Souza, disse que a superlotação tem sido registrada em todos os hospitais que fazem parte da rede pública de assistência a esses pacientes, na capital.
“A situação é muito parecida nos três locais: o HR (Hospital Regional), o HU (Hospital Universitário) e a Santa Casa, onde isso provoca duas situações assistenciais muito ruins. A primeira, que as crianças nascem no centro obstétrico e não tem pra onde ir. Não tem leito de UTI… Não tem mais local nem pra nascer outra criança. E a outra consequência é que a área vermelha do Pronto-socorro da pediatria, que é onde também são atendidos os casos graves, como o paciente não tem leito de UTI ele fica lá na área vermelha também. E aí a assistência a essas crianças que vão chegar lá, graves, também fica prejudicada.”
A imagem acima mostra dois leitos de UTI Neonatal montados na sala de pré-parto e pós-parto (PPP), no Centro Obstétrico, para evitar a desassistência aos recém nascidos no hospital.
Há pouco mais de um mês, em fevereiro, foram abertos cinco novos leitos de UTI Neonatal na Santa Casa para atender aos pacientes do SUS, resultado de parceria entre os governos municipal e estadual e o hospital. A direção técnica da unidade revelou hoje que esses leitos não conseguem absorver toda a demanda porque, além de Campo Grande necessitar de mais 30 leitos segundo o MPE, pacientes do interior também são enviados para atendimento intensivo na capital, o que agrava a situação.
Ao ser questionada, a Secretaria Municipal de Saúde da capital (SESAU) enviou nota à redação da CBN alegando que o total de leitos nos hospitais da cidade que atendem pelo SUS é suficiente para garantir o atendimento. Já a Secretaria Estadual de Saúde (SES/MS) informou que, apesar da Gestão Plena da Saúde ser de responsabilidade do município, tem repassado recursos e contribuído para o aumento na oferta de leitos de UTI Neonatal.
O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) aponta que em Mato Grosso do Sul há 54 leitos de UTI Neonatal registrados no SUS e, destes, 49 estão em Campo Grande, distribuídos entre a Santa Casa, a Maternidade Cândido Mariano, o Hospital Universitário e o Hospital Regional.
Para quem está na linha de frente desse atendimento aos recém nascidos, é preciso que a população também seja informada sobre essa realidade. “Essa discussão não pode ficar só nos fóruns adequados e as pessoas não terem noção da gravidade do que está acontecendo. Então, essa é uma oportunidade pra dizer: ‘olha, vamos olhar melhor pra nossas crianças’… Quando um paciente com Covid fica sem leito parece que todo mundo entra em desespero, mas isso está acontecendo com o recém-nascido, há um bom tempo, e as soluções não aparecem… A sensação de você ver uma criança precisando de leito de UTI e não conseguindo, ela é, às vezes, além da impotência, ela chega desesperadora, né?”, desabafou o médico e diretor técnico da Santa Casa.
Veja a íntegra dos textos enviados à nossa redação pelas secretarias de Saúde:
“Campo Grande possui hoje o número de UTIs neonatais suficiente para atender à toda a população da macrorregião que lhe compete, contudo vem absorvendo também a demanda de municípios que fazem parte de outras macrorregiões, ou seja, dando assistência, assim, a um número de pacientes muito maior que aquele que lhe cabe. Um exemplo disso é a visita técnica realizada na Santa Casa no dia 12 de março após o hospital alegar que estava com lotação máxima nos leitos UTIN. No relatório da equipe, observa-se que dos 28 pacientes internados, 9 eram da Capital, 19 desta macrorregião, 2 da macro de Dourados, 4 da macrorregião de Corumbá e 2 de Três Lagoas, cidades estas que possuem leitos de UTI Neo e deveriam absorver a esta demanda. É importante ressaltar também a ampliação de leitos de UTIN que Campo Grande tem feito desde o início do ano. Na Santa Casa foram ativados 5 novos leitos, e na maternidade Cândido Mariano foram mais quatro. Além desses, há também um chamamento em curso para ativação de cinco novos leitos de UTI Neo e cinco semi-intensivos no hospital El Kadri.” – Nota da SESAU
"A Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES/MS) ressalta que a abertura de leitos é de responsabilidade dos municípios que possuem gestão plena da Saúde, mas que o Estado tem procurado auxiliar os municípios no financiamento e na entrega de equipamentos para o funcionamento de leitos de UTIs Neonatais no Estado. A SES/MS ressalta que abriu recentemente cinco leitos de UTI Neonatal na Santa Casa de Campo Grande sendo estes leitos financiados pela Secretaria de Estado de Saúde e mais quatro leitos de UTI Neonatal na Maternidade Cândido Mariano e espera que até o próximo dia 30 de março, sejam abertos mais 11 leitos de UTI Neonatal na Maternidade Cândido Mariano, totalizando 15 leitos pactuados e com os recursos já repassados à Instituição. A SES/MS esclarece que, o Estado está empenhado em fortalecer a rede de assistência e trabalha junto com os municípios de Três Lagoas para a abertura de cinco novos leitos de UTI Neonatal e mais cinco leitos intermediários, além de Dourados para a abertura de mais oito novos leitos de UTI Neonatal." – Nota da SES/MS