Mais de 15 mil chamadas relacionadas à violência doméstica foram registradas pelo Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) em Campo Grande no ano de 2023. O número representa cerca de 14% do total de atendimentos realizados pelo serviço. Os dados são de uma pesquisa publicada na Revista Científica da Polícia Militar do Estado no início deste mês.
Apesar do volume de chamados, o total de boletins de ocorrência registrados foi consideravelmente menor. De acordo com a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública, 6.700 casos foram formalizados como ocorrências de violência doméstica na capital sul-mato-grossense.
Para a juíza da 3ª Vara de Violência Doméstica de Campo Grande, Jacqueline Machado, esse dado reflete a complexidade do fenômeno e as dificuldades enfrentadas pelas vítimas na tomada de decisão sobre denunciar ou não o agressor.
“Nem sempre a mulher deseja fazer o boletim de ocorrência. Muitas vezes, ela apenas quer a presença da polícia para garantir segurança e resolver um problema pontual. Nem todas as chamadas resultam em ocorrências porque a mulher pode decidir não formalizar a denúncia”, explica a magistrada.
Bairros periféricos concentram maior número de chamados
O estudo também apontou que os bairros mais afastados do centro de Campo Grande lideram o ranking de ocorrências de violência doméstica. O Jardim Noroeste registrou o maior número de chamados, com 625 ligações para o 190. Em seguida, aparecem o Nova Lima, com 537 registros, e o Parque do Lageado, com 431.
Para a juíza Jacqueline Machado, a falta de infraestrutura e a menor presença do Estado nesses locais podem contribuir para o aumento da violência.
“Bairros mais afastados têm menos equipamentos de segurança, menor iluminação pública e menos serviços públicos em geral. Isso pode aumentar a vulnerabilidade das mulheres e dificultar o acesso à denúncia. Além disso, em regiões com altos índices de outros delitos, a violência contra a mulher também tende a ser maior”, destaca.
Noites e fins de semana concentram maior número de casos
Outro dado relevante da pesquisa é que a maioria dos casos de violência doméstica ocorre entre 18h e meia-noite, período em que as famílias costumam estar reunidas em casa.
A advogada Luciana Azambuja, presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da OAB/MS, explica que fatores como consumo de álcool e drogas podem intensificar o problema.
“Muitas vezes, o agressor passa o dia inteiro consumindo álcool ou outras substâncias e, ao retornar para casa, se torna violento com sua companheira. Infelizmente, os períodos noturnos e os fins de semana são os momentos em que mais se registram casos de agressões”, analisa.