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Campo Grande, 06 de julho

Campo Grande é a primeira cidade do Centro-Oeste com território protegido pelo Método Wolbachia

Dividido em seis fases, o projeto liberou 102 milhões de mosquitos em 74 bairros de sete regiões urbanas da Capital

Por Redação CBN-CG
02/07/2024 • 14h00
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Dividido em seis fases, o Projeto Wolbachia, para o combate às arboviroses (dengue, zika e chikungunya), foi concluído na Capital sul-mato-grossense e abrangeu 74 bairros em sete regiões urbanas.

Mais de 900.000 pessoas foram beneficiadas em Campo Grande por meio do World Mosquito Program (WMP),  que utiliza o Método Wolbachia para reduzir a incidência de mosquitos transmissores dessas doenças.

Wolbachia é uma bactéria presente em cerca de 50% dos insetos, inclusive em alguns mosquitos. No entanto, não é encontrada naturalmente no Aedes aegypti. Quando presente neste mosquito, a Wolbachia impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e também da febre amarela urbana se desenvolvam dentro dele, contribuindo para redução destas doenças.

O primeiro local de atuação do WMP foi o norte da Austrália, em 2011, e, atualmente, está presente em 14 países (Austrália, Brasil, Colômbia, El Salvador, México, Indonésia, Honduras, Laos, Sri Lanka, Vietnã, Kiribati, Fiji, Vanuatu e Nova Caledônia). 

No Brasil, o Método Wolbachia é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Saúde, em parceria com os governos locais no Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE).

Desde o início do planejamento, em 2019, e o começo das operações em 2020, o projeto tem alcançado resultados positivos. Em seis fases, abrangeu 74 bairros e sete regiões urbanas, atendendo aproximadamente 130.000 pessoas por fase. Durante todo o período, mais de 900.000 pessoas foram beneficiadas, com a produção de aproximadamente 2,7 kg de ovos, 870.000 tubos e a liberação de 102 milhões de mosquitos.

De acordo com a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Veruska Lahdo, a população de Campo Grande vem convivendo com a dengue desde 1986 e, desde então, enfrentou várias epidemias que causaram muito transtorno e sofrimento à população e aos profissionais de saúde, além de sobrecarregar os serviços de saúde. Segundo ela, a última epidemia significativa em Campo Grande foi em 2019, com mais de 40 mil casos notificados.

Nesse mesmo ano, demos um grande passo no combate às doenças causadas pelo Aedes aegypti com a implantação do Método Wolbachia. Foi um grande desafio para a capital, especialmente porque não esperávamos enfrentar uma pandemia logo no início das atividades em 2020. Tivemos que fazer vários arranjos para que, em dezembro de 2020, pudéssemos iniciar a liberação dos mosquitos no ambiente”, destaca Lahdo.

Segundo a superintendente, os casos de dengue têm se mantido estáveis em Campo Grande e, há dois anos, o município não enfrenta uma epidemia da doença. 

Foram quatro anos de muito trabalho, contando com o apoio de vários segmentos, como a comunidade, unidades de saúde, agentes comunitários e a parceria constante dos pesquisadores da Fiocruz do Rio de Janeiro. [...] O Método Wolbachia, além de ser uma metodologia inovadora que veio para compor as demais estratégias já existentes, trouxe uma grande esperança para todos nós na redução da transmissão de doenças graves como dengue, zika e chikungunya”, conclui.

O líder do Método Wolbachia no Brasil, Luciano Moreira, reforça que “essa é uma rede construída em conjunto e com muitas mãos". e ressaltou que os resultados começaram a ser observados a partir de dois após o término das liberações dos Wolbitos, os mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia.

"Em Campo Grande as liberações foram finalizadas em dezembro de 2023. Seguimos fazendo o monitoramento do estabelecimento da Wolbachia no município. Estamos contentes com a finalização desse projeto que é para todos. Um trabalho que leva mais saúde para a população", conta Luciano Moreira.

A superintendente estadual de Vigilância em Saúde (SES-MS), Larissa Castilho destaca que "este projeto fortaleceu a colaboração entre a comunidade científica, as autoridades de saúde e a população, demonstrando que juntos somos mais fortes e mais capazes de enfrentar desafios complexos".

Ovo carioca, mosquito pantaneiro

Produção de Wolbitos na biofábrica Produção de Wolbitos na biofábrica - Foto: PMCG

Para potencializar a implementação do método, Campo Grande ganhou uma biofábrica para a produção desses mosquitos. Os ovos do Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia eram enviados do Rio de Janeiro e acompanhados até a fase adulta na biofábrica local, onde eram liberados em ciclos de 16 semanas. Assim, nasciam em berço campo-grandense os mosquitos pantaneiros com Wolbachia.

Uma das estratégias utilizadas foi o Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO) na região das Moreninhas, conhecido como “Casa do Wolbito”. Esta estratégia envolveu a comunidade na liberação de ovos de mosquitos com Wolbachia.

Engajamento comunitário

O engajamento comunitário foi fundamental para a implementação do Método Wolbachia. Cerca de 500 agentes foram capacitados para dialogar com a população, esclarecer dúvidas e apresentar o funcionamento do método. Durante esta etapa, 385.000 pessoas foram diretamente alcançadas.

Campo Grande possui uma forte representação indígena, e a comunicação com estas comunidades incluiu reuniões com as lideranças das aldeias Marçal de Souza, Estrela do Amanhã e Água Bonita, além da produção de vídeos em línguas indígenas.

Com o objetivo de intensificar o estabelecimento dos Wolbitos, Campo Grande desenvolveu a iniciativa “Wolbito em Casa”, que envolveu 1.695 alunos de 17 escolas municipais. Esses alunos levaram cápsulas com ovos de Wolbachia para casa e cuidaram de seu desenvolvimento.

O gestor de implementação do Método Wolbachia em Campo Grande, Antônio Brandão, destacou que a estratégia contribuiu para o estabelecimento dos Wolbitos no território onde esses alunos residem e também para seu aprendizado. “Foi uma estratégia muito importante, pois em nenhum local do mundo nós conseguimos fazer algo nestas proporções, contribuindo assim no estabelecimento dos mosquitos”, diz Brandão.

Na avaliação da secretária municipal de Saúde, Rosana Leite de Melo, a implementação do Método Wolbachia em Campo Grande representa um marco significativo no combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. “Temos grandes expectativas em relação ao estabelecimento dos mosquitos com Wolbachia na natureza, o que deve se perpetuar ao longo do tempo, contribuindo para que nossa cidade mantenha baixos índices de doenças como dengue, zika e chikungunya”.

Sobre o 'Método Wolbachia'

Mosquitos com Wolbachia reduzem casos de dengue em Niterói Foto: Flávio Carvalho/WMP Brasil/Fiocruz

O Método Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede que os vírus da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do mosquito. 

Esses mosquitos se reproduzem com os mosquitos locais, gerando uma nova população com Wolbachia. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos infectados com a bactéria aumenta, eliminando a necessidade de novas liberações.

A eficácia do método é comprovada. No Brasil, houve uma redução de até 70% nos casos de dengue e de 60% nos casos de chikungunya em Niterói, que se tornou o município com menor número de casos de dengue no Estado do Rio de Janeiro, registrando apenas nove casos até abril de 2023.

Não há qualquer modificação genética no Método Wolbachia do WMP, nem no mosquito nem na Wolbachia.

*Com informações da Sesau/PMCG

 

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