Não foi desta vez que a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3) da Petrobras, em Três Lagoas, foi vendida. Em comunicado divulgado ao mercado nesta semana, a estatal informou que encerrou as negociações de venda da fábrica com o grupo russo Acron devido mudança proposta no projeto que “impossibilitou determinadas aprovações governamentais”.
Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, a negociação comercial não avançou porque a Acron tinha um plano para fazer apenas uma misturadora na estrutura da fábrica e não produzir nitrogenados. “O governo do Estado analisou o plano de negócio, pediu que a Acron revisasse, incluindo a instalação da indústria, mas a empresa teve um posicionamento muito claro que não tinha interesse na implantação da UFN, diante disso, indeferimos o pedido”, disse Verruck.
Ainda de acordo com o secretário, o governo do Estado ofereceu outra área para que o grupo russo instalasse essa misturadora, mas a empresa não teve interesse. “Tanto o governo do Estado quanto a Prefeitura de Três Lagoas querem a conclusão da fábrica, que com mais 700 milhões de dólares pode ser concluída. Acho que o indeferimento foi positivo para o Estado e para Três Lagoas, que fez a doação de uma área substancial”, destacou Verruck.
A venda da UFN 3 ao grupo russo foi anunciada em fevereiro deste ano pela ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que deixou o cargo para concorrer ao Senado. Em nota, a Petrobras diz que está realizando os trâmites internos para encerramento do atual processo de venda e lançamento de um novo tão logo possível. A previsão é de que o novo edital de venda seja lançado em junho.
Repercussão
Nesta semana, a senadora Simone Tebet (MDB/MS), mais uma vez ocupou a tribuna do Senado para criticar a venda da UFN 3. “Solicitamos da Petrobrás, o porquê, no momento em que o mundo está passando fome, vender a maior fábrica de fertilizantes da América Latina, quase concluída, para uma empresa russa?”
Em março, a senadora já havia questionado a Petrobras sobre a venda da fábrica para a Acron, que iria torna-la em uma mera ‘misturadora de insumos’. Simone denunciou e apresentou o requerimento de informações questionando uma série de pontos das negociações de venda da fábrica que estavam em desacordo com o contrato.
Em entrevista ontem, a senadora disse que o contrato de venda com o grupo russo estava irregular, com desvio de finalidade e que a Petrobras estava vendendo a fábrica sem nenhum critério, sem nenhuma obrigação dos russos concluíram a unidade, e em desacordo com o edital de licitação.
A senadora defende que a UFN 3 seja concluída conforme o projeto inicial apresentado pela Petrobras, que é a produção de fertilizantes e atrair, pelo menos, 14 empresas misturadoras para a cidade.
Simone adiantou que já existem duas petroquímicas brasileiras interessadas na compra da UFN 3. “Assim que o edital for lançado, não tenho dúvidas de que essa fábrica seja concluída em 12 meses. Não podemos permitir que essa fábrica que já recebeu bilhões de reais em investimentos se torne uma mera misturadora, gerando apenas 100 empregos”, disse a senadora. Além da preocupação de a fábrica tornar-se apenas uma misturadora de insumos, havia o temor de os equipamentos com tecnologia de ponta serem retirados do local para encaminhá-los à Rússia.
Em relação ao gás natural, matéria prima necessária para o funcionamento da fábrica, a senadora disse que isso não é problema, porque a própria Petrobras pode oferecer parte do produtor.
A UFN 3 foi projetada para produzir 1,2 milhão de toneladas de ureia e 761.000 toneladas de amônia por ano. As obras de construção da UFN 3, iniciadas em 2011, foram paralisadas em dezembro de 2014, após a Petrobras romper o contrato com o Consórcio UFN 3.
Em 2017, a estatal informou que não tinha interesse no segmento de fertilizantes e colocou a fábrica à venda. Essa é a segunda vez que o grupo russo tenta comprar a UFN 3, mas sem sucesso.