Começando pelo começo. Foi assim que o consultor de mercado de commodities Maurício Bellinelo explicou as estratégias de proteção de preços, a chamada hedge, para as centenas de produtores, investidores e profissionais da área que compareceram ao RCN Agro 2022 no auditório na Famasul, em Campo Grande, na noite desta terça-feira (17).
Bellinelo abriu a palestra trazendo um histórico do mercado de commodities, que foram os primeiros ativos a serem negociados – consta que o início dos acordos envolvendo esses produtos ocorreu com os sumérios, no atual Iraque, por volta de 4.500 a.C.
Em 4.000 a.C teria começado o trabalho com contratos futuros na China e, por volta de 1.600, consolidada essa estratégia – o arroz foi o primeiro contrato firmado. Porém, só em meados do século XIX o mercado se desenvolveu de fato, principalmente com a Bolsa de Chicago.
Ali, ficou bem claro o potencial do mercado para os grandes produtores ou grandes compradores. "Aí surgiu o hedge, que é um tipo de estratégia aplicada ao mercado de commodities, mas não apenas a ele, que busca reduzir ou até eliminar riscos atrelados às incertezas ligadas às variáveis que formam os preços de um certo ativo", comenta Bellinelo.
O palestrante conta que entra as variáveis estão clima, oferta e demanda, preço de insumos e a sazonalidade das safras. "De forma figurada, a hedge funciona como um seguro de carro", cita, lembrando ainda que nos Estados Unidos 80% dos produtores fazem uso de alguma forma de hedge para defender seus preços. No Brasil, esse índice é de apenas 5%.
"Quem são esses 5%? Quem faz aqui são os gigantes. Nos Estados Unidos, uma rocinha com 500 sacas de soja está fazendo hedge e protegendo seu investimento. O Brasil precisa de uma nova forma de educação, entender que nada adianta colher 150 sacas por hectare, se na hora que for vender tratar isso como alguém que nunca viu isso na vida", destaca.
Bellinelo complementa que "isso tudo é dinheiro, é a garantia da sua família. Minha atuação sempre tem um objetivo de favorecer a produção agrícola, mas a maioria das pessoas não tem tempo de analisar isso. Olhar só uma safra não vai resolver. Tem de olhar para frente 10, 15 safras. Aí sim vamos começar a melhorar", finaliza.
QUESTIONAMENTOS
Ao final da palestra, Bellinelo abriu o evento para perguntas do público. Uma delas foi sobre como prever o futuro do mercado, com quedas e elevações de demanda e preço. Maurício foi crítico a algumas práticas, revelando que os agricultores precisam definir preços mínimos e a partir dali buscar estratégias para valorizar melhor seus produtos.
"É muito importante o agricultor ter plena noção do grau de controle, ou não tem, sobre os formadores de preço da commodity dele. Você não forme preço, não controla clima, não controla o que chineses vão comprar. Você não controla nada. Você controla o que faz da porteira para dentro, e mais ou menos", disparou Bellinelo na explicação.
Em seguida, ele abriu um horizonte ao falar sobre a importância de boas decisões, entendendo como funciona a formação de preços e conviver com a decisão própria, sem seguir a dos vizinhos. "Se der errado para você, seu vizinho não vai pagar seu boleto. Agricultor precisa trazer para si a responsabilidade que tende a terceirizar".
MUDANÇAS NA PRODUÇÃO
Logo após a palestra de Bellinelo, a RCN Agro 2022 contou com uma segunda palestra comandada por João Pedro Cuthi Dias, especialista que trouxe reflexões sobre a necessidade de se aplicar mudanças na produção agrícola, os desafios para implantar a sustentabilidade e como enfrentar os problemas climáticos que vem surgindo cada dia mais.
"Vivemos um momento difícil no mercado mundial e precisamos adotar estratégias corretas para manter a lucratividade. Vou falar sobre o clima. De 1981 a 2010 só no Centro-Oeste registramos um aumento brutal de 4°C na temperatura média. Isso influencia nossos processo e indica a necessidade de mudança do modelo que vivemos", comenta.
Cuthi Dias também aponta que existe a ideia de aplicar 100 bilhões de dólares no sequestro de carbono, sendo que se 2 bilhões chegarem ao Brasil já é um pontapé para a criação de fundos para amparar os produtores na recuperação de áreas com potencial de sequestro.
"Hoje não recuperam por quatro razões. O produtor não tem conhecimento de como recuperar, não há extensão rural que massifique o conhecimento das pesquisas. O produtor também não tem equipamentos. Quanto custa um trator, R$ 300 mil, R$ 400 mil?", diz o palestrante.
João Pedro ainda fala que a falta de escala atrapalha, sendo a extensão e união dos produtores a solução para que haja um trabalho conjunto nessa recuperação. "Para comprar calcário, só grandes quantidades. Adubo se vende mais a granel. Em saco fica 15% mais caro", explica o especialista durante sua palestra na Famasul.
Confira as palestras na íntegra logo abaixo: