O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aplicará, este ano, pelo menos R$ 10 bilhões no setor elétrico, podendo os desembolsos da instituição de fomento chegarem a R$ 12 bilhões. Só para o complexo hidrelétrico do Rio Madeira, em Rondônia, que contempla as usinas de Santo Antonio e do Girau, o banco destinará em 2009 um total de R$ 4 bilhões.
No ano passado, os desembolsos do BNDES para o setor elétrico totalizaram R$ 7 bilhões. Apenas o complexo do Rio Madeira representará investimentos do banco de R$ 27 bilhões até 2015. Serão R$ 10 bilhões para Santo Antonio, outros R$ 10 bilhões para Girau e R$ 7 bilhões para o segmento de transmissão.
“A área de energia elétrica é tradicional no banco, tem a mesma origem do BNDES desde os anos 50, quando surgiu no setor de infra-estrutura”, observou o chefe do Departamento de Energia do BNDES, Nelson Siffert, em entrevista exclusiva à Agência Brasil. O banco financia tanto a área de geração quanto as de transmissão e de distribuição.
Atualmente, como financiador, o BNDES participa da construção de mais de 20 usinas hidrelétricas, que empregam mais de 20 mil trabalhadores. Algumas devem entrar em fase de operação em 2012, outras em 2014, eliminando qualquer risco de racionamento ou de apagão. Essas usinas já obedecem às regras estabelecidas pelo sistema adotado em 2004, mediante o qual a concessão vai para o investidor que oferecer a menor tarifa para o consumidor.
“O Brasil tem um sistema elétrico bem diferenciado do resto do mundo, porque quase 75% do nosso parque gerador é híbrido, quando a média no exterior é de 16%”, observou Siffert. Ele acrescentou que a matriz energética brasileira é muito limpa, defendeu o uso dos planaltos e das planícies do país para a produção de energia elétrica e lembrou que a Amazônia é um manancial energético da maior importância para o Brasil, com capacidade de 100 mil megawatts de energia hídrica.”O Brasil pode triplicar seu parque energético”, disse ele.
Na visão de Siffert, economista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a não utilização dessa energia limpa e barata tem um custo. Embora reconheça as dificuldades para superar as adversidades, ele defendeu a adoção de áreas prioritárias para produção de energia, mediante um zoneamento ecológico. Já que a sociedade não aceita mais usinas com grandes reservatórios, mediante alagamentos, a saída é construir usinas com reservatórios de menor porte, como Santo Antonio, por exemplo, que perdeu 2 mil megawatts de potência para atender às exigências dos orgãos ambientais.
Mas Siffert entende que o país não pode abandonar a idéia de construir novas hidrelétricas em planaltos e planícies. “Temos que usar essa vantagem em benefício da sociedade, da economia, da coletividade”, salientou.
O chefe do Departamento de Energia do BNDES reconheceu que existe muita resistência e preconceito em relação às hidrelétricas, cuja energia nem é reconhecida como renovável pelas Organizações Não Governamentais (ONG) internacionais. Esse preconceito, segundo Siffert, "decorre de desmandos do passado, cujo exemplo mais singular é a construção da barragem de Sobradinho, com alagamentos que devastaram o meio ambiente sem qualquer controle".