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Brasil e Espanha fecham acordo para tratar de transplantes

Acordo técnico permitirá intercâmbio de experiências bem-sucedidas

Brasil é referência mundial no campo dos transplantes e 95% dos procedimentos são realizados no SUS - Ilustração
Brasil é referência mundial no campo dos transplantes e 95% dos procedimentos são realizados no SUS - Ilustração

Duas referências mundiais vão unir esforços para adotar e aprimorar capacitações, qualificação e pesquisa na área de transplantes. Nesta terça-feira, dia 11, o governo brasileiro assinou, em Brasília, um acordo de cooperação técnica com o Ministério da Saúde, Serviços Sociais e Igualdade do Reino da Espanha, por meio da Organização Nacional de Transplantes (ONT). O documento prevê a formação de equipes de transplantadores em campos inéditos ou pouco explorados no país, como o transplante com coração parado (morte circulatória) e de múltiplos órgãos.

“A Espanha é referência no desenvolvimento de transplantes no mundo e possui um dos programas públicos mais avançados no processo, desde a doação até a cirurgia. Apesar de geograficamente não possuir relação com o Brasil, os dois países se assemelham muito em questões técnicas, de legislação e de gestão”, afirma o ministro da Saúde, Arthur Chioro.

A partir da parceria e projetos-piloto, profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) terão acesso a experiências bem-sucedidas, como o programa de doação de órgãos a partir de doadores com coração parado (morte circulatória). Nesses casos, não há chances de sobrevivência para a vítima, mas existem técnicas que permitem o aproveitamento não só do coração, mas mantém de outros órgãos sólidos, como pulmão e rins. No Brasil, os transplantes só ocorrem após a confirmação da morte encefálica e com a permissão da família.

Para que esse tipo de transplante ocorra, além das equipes treinadas para lidar com a vítima de óbito por parada cardíaca na rua, em casa ou mesmo em situações de internação, os profissionais de captação de órgãos devem ter um equipamento que mantém o coração irrigado e funcionando artificialmente até chegar a um hospital habilitado para fazer a cirurgia. Também deve haver rapidez na abordagem com a família, uma vez que somente após a autorização dos familiares a retirada dos órgãos pode ser feita. A logística envolve também a Central de Transplante local, para que haja agilidade na comunicação e preparação junto à família e a pessoa que está na lista de espera por um órgão.

Outro caso é o de cirurgias de intestino, que já são realizadas com sucesso na Espanha, mas pouco praticadas no Brasil, estando no estágio do campo de pesquisas, em São Paulo. Além disso, também pode haver troca de experiência nos chamados transplantes compostos ou de membros (braços e pernas), um tipo de procedimento raro.

Outros itens previstos no acordo são a discussão da legislação e regulação na área de transplantes, a prestação de serviços à população, melhoria do transporte e a garantia de qualidade dos órgãos doados para transplantes, avanços tecnológicos na área, além da organização de reuniões bilaterais, simpósios e outros encontros, com a participação de especialistas. O acordo também vai fortalecer o intercâmbio entre os serviços de saúde e pesquisa.

O acordo de cooperação técnica foi assinado nesta terça-feira (11), em Brasília, na XIV Reunião da Rede/Conselho Ibero-americana de Doação e Transplante (RCIDT), cuja secretaria permanente é de responsabilidade da ONT-Espanha. O evento conta com a participação de representantes de 20 países latino-americanos e se estende até quinta-feira (13), na sede da Organização Pan-americana (OPAS) no Brasil.

Durante a abertura do evento, o secretário de Atenção à Saúde (SAS), Fausto Pereira dos Santos, afirmou que o acordo assinado é resultado de muitas discussões entre os dois países. "A Espanha tem sido uma forte inspiração para o Sistema Nacional de Transplantes brasileiro. Já temos uma parceria longínqua e esperamos que nosso país possa contribuir com o sistema de transplantes espanhol. Para o Brasil, essa parceria é mais um passo para aprimorarmos nosso Sistema, que vem buscando incorporar avanços científicos e tecnológicos", afirmou o secretário.  

Além de fortalecer ações nos dois países, no caso brasileiro, a parceria trará benefícios na área de formação. Desde 2004, a Espanha já recebe anualmente profissionais brasileiros para atividades de capacitação e de especialização na área de transplantes. A partir do acordo formal de parceria entre os países, haverá o fortalecimento das ações e atividades.

CIRURGIAS NO SUS

O Brasil é referência mundial no campo dos transplantes e 95% dos procedimentos são realizados no (SUS). Trata-se do maior sistema público de transplantes do mundo. No primeiro semestre de 2014, o país já realizou 11,4 mil transplantes. Desse total, 6,6 mil são cirurgias de córnea, 3,7 mil de órgãos sólidos (coração, fígado, rim, pâncreas, rim/pâncreas e pulmão) e 965 de medula óssea. Em 2013, o Brasil fechou o ano com 23.457 realizados, 11,5% a mais do que em 2010 (21.040).

Em setembro deste ano, foi lançada a nova campanha publicitária de estímulo à doação, com o slogan ‘’Seja doador de órgãos e avise sua família. Sua família é a sua voz”. O objetivo é sensibilizar as famílias sobre a importância da autorização para a retirada de órgãos após a confirmação de óbito por uma equipe médica. Atualmente, 56% das famílias entrevistadas em situações de morte encefálica aceitam e autorizam a retirada de órgãos para a doação.