Pela primeira vez, em 111 anos, o país vive uma crise hídrica. Na última sexta-feira (28), o governo emitiu alerta de emergência para Mato Grosso do Sul e mais quatro Estados, em razão da falta de água. Agora, na terça-feira (02), a situação se agravou para Crítica de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos na Região Hidrográfica do Paraná.
Segundo o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, essa decisão da Agência Nacional de Águas (ANA), permite que o Estado adote medidas restritivas do uso de água para evitar que falte aos consumidores.
“Com a decretação de crise hídrica abre-se a possibilidade de que o governo tome ações restritivas quanto ao uso múltiplo da água. Vai exigir uma ação coordenada entre esses vários estados para tomada de decisão em relação ao uso da água e se pode culminar num processo de racionamento de energia ou pelo menos de políticas específicas para que a população seja alertada quanto à necessidade de buscarmos redução no consumo de energia elétrica e de água para que se consiga manter o equilíbrio entre os usos múltiplos, que são a navegabilidade, geração de energia, irrigação e abastecimento humano”.
Metade do território de Mato Grosso do Sul pertence à Bacia do Rio Paraná, que engloba ainda partes de São Paulo, Paraná, Goiás e Minas Gerais. A Agência explica que, com a decretação da Situação Crítica, “após a análise de cada situação, poderão ser adotadas medidas, como regras de operação temporárias para os reservatórios para a preservação dos seus volumes”.
O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) assinaram o Alerta de Emergência Hídrica em 27 de maio em função das previsões de chuvas próximo ou abaixo da média entre maio e setembro deste ano. Agora, a Agência declara Situação Crítica.
A Região Hidrográfica do Paraná passa por um déficit de precipitações severo desde outubro de 2019. Conforme acompanhamento da ANA, diversos locais da região registraram vazões baixas a extremamente baixas tanto em 2019 quanto no período chuvoso de 2020/2021, quando foram registradas as menores vazões afluentes que chegam a alguns reservatórios representativos da região dos últimos cinco anos. Em Porto Primavera (MS/SP) por exemplo, as vazões afluentes em maio de 2021 foram as menores de todo o histórico de 91 anos.
Quanto aos volumes armazenados nos reservatórios, em 1º de maio, sete dos 14 principais reservatórios de hidrelétricas da região estavam com seu pior nível desde 1999. E os demais estavam com níveis entre os cinco piores desse período.
De acordo com o professor de recursos hídricos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Jamil Anache, o que ocorre hoje é um reflexo de fenômenos naturais, tendo o ser humano contribuído, mesmo que indiretamente.
“Neste ano, estamos sofrendo os efeitos do La Niña, que é o resfriamento das águas do Pacífico, que provocam anomalias em diversas partes do mundo, inclusive aqui no Brasil. Isso pode ser provocado por fenômenos recorrentes por meio do aquecimento global, e a responsabilidade dos seres humanos está na dificuldade de controlar as emissões de carbono na atmosfera, que são provocadores das mudanças climáticas no planeta”, explica.
Mato Grosso do Sul, em razão da dependência de atividades econômicas ligadas ao agronegócio, por exemplo, é um dos mais afetados com essa crise hídrica. “Significa muito na vida dos sul-mato-grossenses, em função das características econômicas do Estado. Vivemos num lugar que tem a base na pecuária e agricultura, que utilizam muita água”, afirma a presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRhidro), Cynara Broch.
Ela ressalta que é necessário que as pessoas se adaptem a essa realidade. “Nos readequarmos a essas situações para evitar consequências piores”.
Navegabilidade
Com a falta de chuva, o secretário de Meio Ambiente (Semagro), Jaime Verruck, explica que a navegabilidade na hidrovia deve ser reduzida em 50%, o que afeta o desenvolvimento natural de toda a cadeia.
“Neste momento continuamos com a navegabilidade normal na hidrovia, não temos o comprometimento, porém, antes do período do ano passado, teremos uma da redução da navegabilidade, o que fez com que ocorresse uma antecipação da passagem de minério e grãos por Porto Murtinho, e deve gerar pressão nas rodovias”.
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