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Abuso Sexual

Comunidade promove abuso sexual e expõe vídeos na internet

Abusos em ônibus, metrôs, eventos e filas. Uma das vítimas é de Campo Grande.

Mulher é molestada e gravada em festa, depois tem vídeo exposto na internet - Reprodução
Mulher é molestada e gravada em festa, depois tem vídeo exposto na internet - Reprodução

Uma comunidade na internet, a “Jogadores EC”, que faz parte de uma rede social russa de nome VK, produz e divulga material de abuso sexual de mulheres em ônibus, trens, metrôs, filas e eventos brasileiros. A comunidade também recebe contribuições de usuários de outros países da América Latina, como Venezuale a México; também de Campo Grande (MS), de onde foram feitas postagens recentes.

VK é uma rede social russa e equivale ao serviço do Orkut, extinto há cinco anos. De acordo com dados de 2015, é o terceiro site mais visitado na Ucrânia e Bielorrússia, e o segundo maior da Federação Russa, mais popular e mais frequentado atualmente, com um acesso de 33 milhões de usuários diariamente. No mundo é o 25º site mais visitado. A força da rede social, que ainda é desconhecida no Brasil, tem sido usada por brasileiros para promover e divulgar o que os membros da comunidade chamam de “Encoxadas Consensuais”.

Ao ter conhecimentos das informações de que vídeos e fotos onde mulheres são abusadas em trens, metrôs, filas e eventos estavam sendo compartilhados na internet, o JPNews iniciou uma investigação para certificar as denúncias. O conteúdo encontrado é assustador.

“Jogadores EC” seria abreviatura para “encoxada”, que pode ser extensão de alguma comunidade remanescente do extinto Orkut e recriada na rede russa, com nome codificado.

 A comunidade tem atualmente 219 membros ativos que postam vídeos de assédio e de "Ups Kirt"  – código usado para nomear filmagens feitas sob saias de mulheres. Cada usuários, porém, teria uma “especialidade”. Em um tópico postado, um internauta posta imagens de homens ejaculando sobre vítimas ou em suas próprias roupas. Os vídeos do tipo são postados como "conquista" na rede. 

REAÇÕES

Em dezembro de 2015, um homem de 55 anos foi preso por fazer filmagens das partes íntimas de mulheres em um terminal de ônibus em Campo Grande. O autor foi detido por passageiros de ônibus, que perceberam o crime e levaram o suspeito até a Guarda Municipal. 

Há relatos, contudo, de vítimas que foram agredidas após descobrirem os criminosos em trens, metrô, ônibus e até em lojas e locais públicos. Intenautas adeptos admitem que o "perigo" é maior se homens próximos de uma filmagem notarem a situação e partirem para a defesa da vítima. Por isso, líderes da comunidade orientam usuários a precaverem.

As postagens são sempre reforçadas com elogios do tipo “Bom trabalho!”, “Parabéns! Ótimo material”.

ÍDOLOS

Durante a investigação, chamou a atenção um usuário que usa o codinome “Lucas”. Ele é reverenciado por participantes da comunidade por conseguir imagens em locais improváveis e abusar de mulheres em situações consideradas inéditas ou difíceis. No grupo, quanto maior o nível de perigo nas ações, maior o status.

“Lucas”  segue suas vítimas antes que elas entrem nos coletivos ou quando estejam distraídas para registrar o abuso. Na internet é possível encontrar inúmeros registros feitos por esse usuário, em fotos e vídeos. Em muitos casos, ele filma a mesma pessoa seguidamente – o que para ele significa que a vítima “aprovou o abuso”, porque usuários acreditam que as mulheres percebem e gostam da situação. Por isso, as "encoxadas" são chamadas de “Encoxatrizes”.

Na rede, os usuários mantêm um tópico de nome “Filosofia e Psicologia da Encoxada”, onde o criador, de codinome “Jão Jão” diz: “o Intuito deste tópico é desmistificar e trazer uma nova ótica sobre o tema ‘Encoxada', do ponto de vista psicológico e filosófico.” Neste tópico, os participantes dão dicas de como abusar sem serem pegos e indicam aparelhos para fotos e gravações, além de eventos onde, segundo eles, seria fácil de “realizar o trabalho”.

Além de homens, também há mulheres na comunidade. Nas postagens há relatos de mulheres que dizem ter aprovado o assédio e outras que relatam ter tomado iniciativa para que fossem. Uma das mais ativas, é uma usuária com apelido "Alexandra Furtado", que conta seus relatos e, inclusive, anuncia locais que eventualmente possa estar. 

SÃO PAULO

O número de casos de abuso sexual no Metrô de São Paulo cresceu 28% (de 96 para 123 ocorrências) entre 2014 e 2015, segundo dados da Polícia Civil paulista. Fora o alto percentual anual, 2015 registrou a maior quantidade de casos de importunação ofensiva ao pudor no sistema metroviário paulistano em cinco anos. Entre 2011 e 2013, a quantidade de ocorrências dessa natureza variou entre 60 e 66 (menos da metade dos registros feitos no ano passado). É o que aponta levantamento feito com base em dados da Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano), responsável pelo registro e investigação dos crimes ocorridos no sistema de transporte sobre trilhos em São Paulo, obtidos por meio da lei de acesso à informação, e publicados pela imprensa paulistana.

É CRIME?

Classificado como delito leve, este tipo de crime pode ser punido apenas com multa por importunação ofensiva ao pudor. Por não ser considerado crime, autores de abuso sexual do tipo não pode ser preso, exceto em flagranrte. Prisões só ocorrem em caso de estupro, crime hediondo descrito por lei como um ato libidinoso violento, em flagrante ou após condenação.

CIÊNCIA

Segundo a psicologia, esta é uma prática chamada de ‘Frotteurismo’, onde a mulher ou o homem que seja portador desta parafalia, que também pode ser caracterizada como perversão, tem o prazer sexual não exatamente na cópula – ato sexual – mas, em outras atividades relacionadas. Na maioria das vezes a excitação vem da situação de não consentimento e perigo. Este comportamento pode ser danoso para as vítimas, gerando distúrbios como o medo de estar em locais com muitas pessoas, o que pode gerar fobias sociais nos casos mais graves.