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Geopolítica

Crise na Bolívia suspende negociação de venda da UFN 3 a grupo da Rússia

Fraude na eleição presidencial que teria reeleito Evo Morales provoca reflexos em negociações empresariais no Estado

A crise política na Bolívia, que levou à renúncia e exílio do ex-presidente Evo Morales no México, no início deste mês, travou uma negociação da Petrobras para a venda da UFN 3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados), de Três Lagoas, à empresa Acron Group, da Rússia. A negociação, iniciada em 2018, gerou expectativa de retomada da obra que está paralisada há quase cinco anos.

As negociações previam reinício da construção no primeiro trimestre de 2020. O projeto está em 82% de seu cronograma.
A extensão da crise ocorre pelo não reconhecimento pelo governo russo do governo da autoproclamada presidente boliviana, Jeanine Áñez. Morales é aliado político do presidente russo Vladimir Putin.

Em outubro, antes da queda de Morales, a estatal YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos) e o Acron assinaram um acordo para a criação de uma companhia conjunta para a venda de ureia que será produzida na UFN 3.

Mas, no final da semana passada, a YPFB comunicou ao governo do Estado que adotou uma “priorização” da distribuição do gás natural disponível no país e a suspensão do fornecimento de ureia para o Brasil.

A Bolívia seria a fornecedora de gás, matéria-prima essencial para indústria entrar em operação e é a maior fornecedora de ureia a produtores agrícolas brasileiros. 

De acordo com o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jaime Verruck, a crise vai atrasar o cronograma de fechamento de contratos entre a Petrobras e o Acron, entre outros negócios em Mato Grosso do Sul. A empresa brasileira possui contrato com a estatal boliviana até 31 de dezembro para fornecimento de 30 milhões de m³/dia de gás natural. 

Em junho, Morales e Putin assinaram acordos para viabilizar negócios no Brasil, incluindo a o fornecimento de gás para o Acron. Com a  Bolívia, o governo do Estado assinou um termo de cooperação envolvendo gás para a termoelétrica Fronteira, que o grupo Camaçari pretende construir em Ladário. O acordo inclui a comercialização de gás natural, GNL (gás natural líquido), GLP (gás líquido de petróleo)  e ureia com empresas do Estado.

Prazos
A venda da UFN 3 à empresa russa fica comprometida também porque o Acron irá aguardar a definição política da Bolívia, que poderá ocorrer após as novas eleições presidenciais que estão sendo negociadas entre Jeanine Áñez e autoridades locais – incluindo políticos aliados a Morales. Ontem ela entregou um projeto ao Congresso para acelerar a convocação de eleições gerais e a escolha de novos membros do Tribunal Superior Eleitoral. 

Se o Acron desistir de comprar a fábrica, a Petrobras terá que abrir nova licitação, que pode levar de um a dois anos para ser concluída. A estatal ainda não se pronunciou sobre o assunto.