Com a previsão de alta nos preços da celulose de fibra curta em abril, a Suzano está ainda mais perto de submeter ao conselho de administração o projeto de construção de uma nova fábrica, em Ribas do Rio Pardo, cujos investimentos estão estimados em até US$ 3 bilhões. Ontem, durante o “Suzano Day”, a companhia revelou a dimensão do projeto, sem fornecer detalhes sobre desembolso. Serão 2,3 milhões de toneladas por ano, o equivalente a cerca de 20% de sua atual capacidade instalada de celulose de mercado.
De acordo com os analistas Marcio Farid, Rodolfo Angele e Lucas F. Yang, do J.P.Morgan, muitos investidores esperavam que a Suzano já oficializasse o investimento em Ribas do Rio Pardo no encontro anual, que foi virtual desta vez por causa da pandemia de covid-19. Contudo, a Suzano só dará esse passo quando a alavancagem convergir para os níveis previstos na política financeira – até 3,5 vezes pela relação entre dívida líquida e Ebitda em momentos de investimento em expansão. Em dezembro, esse índice estava em 4,3 vezes, frente a 4,9 vezes um ano antes, mas com os preços da celulose em alta, o processo de desalavancagem se acelera.
De acordo com o diretor de Finanças, Relações com Investidores e Jurídico, Marcelo Bacci, 2021 representará um importante ponto de virada no que diz respeito à convergência da alavancagem à política financeira. “Estamos comprometidos com a disciplina financeira e a manutenção do grau de investimento”, disse. A Suzano tem nota grau de investimento e perspectiva estável das três agências de classificação de risco. Segundo Bacci, a maior geração de caixa permitirá à companhia lançar novos projetos de crescimento e retomar o pagamento de dividendos nos próximos anos.
A dimensão da futura fábrica em Ribas deriva da projeção de déficit no mercado global de fibra curta nos próximos anos e a unidade será a mais competitiva da companhia. De acordo com o diretor de Celulose Industrial, Engenharia e Energia, Aires Galhardo, a distância entre fábrica e floresta (raio médio) será de apenas 60 quilômetros e 85% da madeira necessária para os primeiros anos de operação está assegurada. A execução do projeto deve levar 30
meses.
A Suzano prevê que a demanda global de celulose de fibra curta deve crescer 4,6 milhões de toneladas nos próximos cinco anos. A migração de outros tipos de fibra para a fibra curta deve adicionar mais 1 milhão de toneladas, elevando a 5,6 milhões de toneladas o consumo adicional, sobre as 35,8 milhões de toneladas de 2020. Ao mesmo tempo, os projetos anunciados até o momento – UPM, Bracell e Arauco (Mapa) – vão adicionar 3,4 milhões de toneladas à oferta, para 43,2 milhões de toneladas, volume inferior à demanda. Além disso,há previsão de mais fechamentos de unidades nos próximos anos. “Olhando para esses números, vemos que o mercado estará apertado em termos de oferta e demanda, que vai exceder a capacidade em mais de 2 milhões de toneladas”, afirmou o diretor comercial de Celulose e de Gente e Gestão, Leonardo Grimaldi.
Galhardo explicou que, além do projeto de expansão, a Suzano tem hoje um portfólio de 32 projetos de modernização industrial, que permitirão reduzir o custo caixa de celulose e trarão maior eficiência às operações, em particular com redução do consumo de químicos e maior geração de energia renovável. Os investimentos nesses projetos somam R$ 2 bilhões até 2024, resultando em redução de R$ 46 por tonelada no custo caixa de celulose. A Suzano prevê alcançar até 2024, gradualmente, desembolso operacional total de cerca de R$ 1.400 mil por tonelada, frente a R$ 1.482 por tonelada no ano passado. Em 2019, esse desembolso havia sido de R$ 1.584 por tonelada.
Do lado da sociedade, destacou Walter Schalka, a Suzano está trabalhando em conjunto com outras companhias para acelerar a vacinação contra a covid-19 no país, como parte de um pacote de iniciativas para combater a pandemia e mitigar seus impactos.