O arcebispo metropolitano de Campo Grande, dom Dimas Lara Barbosa, disse, em entrevista ao Jornal do Rádio Educativa, da 104 FM, e ao Jornal da TVE, ser plenamente favorável à posição manifestada pelo Papa Francisco sobre o fim de um casamento. Segundo o arcebispo, na Igreja não há um mecanismo de “divórcio”, que permite outro casamento após a separação. Mas é possível recorrer ao Tribunal Eclesiástico para pedir a nulidade do matrimônio, mesmo que a separação ocorra já com a família constituída pelo casal, com filhos.
De acordo com o arcebispo, a posição oficial da Igreja sobre os problemas da família, incluindo a dissolução do casamento, ficará clara em outubro, após o Sínodo (assembleia eclesiástica) convocado pelo Papa e que será realizado em outubro. “Quando a Igreja pensa na família, ela tem que ter presente, por exemplo, as famílias marcadas pela poligamia em algumas regiões da África, as famílias marcadas pela perseguição religiosa em alguns países onde o Estado Islâmico praticamente decreta a pena de morte para quem se converte as famílias de imigrantes entre México e Estados Unidos”, observou o arcebispo. “Queremos a partir de outubro ter um documento mais formal do Santo Padre sobre todas essas questões”.
No último dia 24 o Papa Francisco reconheceu que a separação do casal em alguns casos é inevitável e até "moralmente necessária", principalmente quando reina a violência no lar, em uma clara mensagem de abertura ante os desafios da família moderna. Para o arcebispo de Campo Grande, o Papa “não disse nenhuma novidade” e é preciso entender que uma coisa “é a fidelidade, o vínculo matrimonial como sacramento. Ninguém é obrigado a sofrer violência”, daí a separação é mais que recomendável.
Um segundo casamento na Igreja após a separação não é possível, segundo dom Dimas Lara. “A Igreja sempre tolerou o desquite e a recomendação da separação leva em conta a necessidade de “suprimir” a violência, no exemplo citado pelo Papa Francisco.
Dom Dimas Lara vai além e considera que a separação pode ser consentida também em razão de outras formas de violência, com em situações em que o cônjuge não permite que o outro não trabalhe, não estude e não possa se desenvolver pessoal e profissionalmente, até nos casos em que a esposa é proibida pelo marido de frequentar igreja, independentemente da confissão religiosa. No caso da infidelidade (traição), a Igreja vê razão para a separação, mas não motivo para nulidade, exceto se se comprovar que antes do matrimônio já havia a intenção de burlar todos os princípios do casamento.
De acordo com o arcebispo de Campo Grande, A Igreja não admite, ainda, a nulidade do casamento como sacramento, mas a nulidade, que daria direito a um novo casamento, é possível se o Tribunal Eclesiástico constatar que “na prática” o casamento não existia segundo seus princípios. O arcebispo cita exemplo de uma mulher que descobriu após o casamento que o marido tinha crises psiquiátricas, que o tornavam violento e um risco à família. O Tribunal entendeu que não era motivo para anular o sacramento. A mulher apurou que antes do casamento o parceiro foi internado em uma clínica, portanto, esse aspecto foi acatado no recurso da anulação. “É preciso comprovar, mesmo que no passar do tempo, que o companheiro nunca quis ter filhos, nunca pensou em cumprir as obrigações do casamento” para terminar um casamento perante a Igreja com possibilidade de um segundo matrimônio.