Veículos de Comunicação

Contrato Desfeito

J&F marca data para devolver dinheiro e desfazer acordo de venda da Eldorado

Em comunicado, a J&F disse que o acordo destrava R$ 20 bilhões de investimentos na empresa de celulose, com criação de 10 mil empregos

Fábrica de celulose pode ser ampliada após desfecho sobre venda.
Fábrica de celulose pode ser ampliada após desfecho sobre venda.

A J&F Investimentos comunicou a Paper Excellence que irá desfazer o contrato de venda da Eldorado Brasil, com base na orientação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que, em nota técnica, se posicionou contrário à operação de venda da fábrica de celulose em Três Lagoas para empresa equiparada a estrangeira.

Segundo a J&F, o distrato será formalizado em 23 de janeiro de 2024 e o Grupo devolverá os R$ 3,77 bilhões já pagos pela Paper Excellence. Com isso, a J&F voltará a ser a única proprietária da Eldorado. Em comunicado, a J&F disse que o acordo destrava R$ 20 bilhões de investimentos na empresa de celulose, com criação de 10 mil empregos. A ampliação da fábrica já era para ter acontecido, se não fosse a disputa judicial pelo controle de 100% da fábrica. A “briga” pelo controle da Eldorado virou uma disputa jurídica sem precedentes. A cada semana uma decisão diferente trava, investimentos bilionários para a construção da segunda linha.

A Paper Excellence detém 49,41% da Eldorado e luta para assumir 100% do seu controle. A J&F ainda tem o controle de 50,59% das ações. A fábrica foi colocada à venda em 2017 por R$ 15 bilhões. Na época, a Paper Excellence pagou parte do valor.

Paper

Em nota, a Paper Excellence acusa os gestores da Eldorado Brasil Celulose de agir com deslealdade em favor da J&F na tentativa de obstruir a transferência do controle da companhia. Em notificação encaminhada, nesta segunda-feira (8), ao diretor presidente da Eldorado, Carmine de Siervi Neto, a Paper alega que a empresa distorceu os efeitos jurídicos de uma nota técnica emitida pelo Incra e transmitiu informações falsas ao mercado, promovendo campanha da J&F que busca descumprir obrigações contratuais.

Em comunicado ao mercado, emitido no dia 2 de janeiro, a Eldorado havia sugerido desfazer o acordo de compra e venda firmado em 2017, informando que orientaria seus acionistas a adotar as providências cabíveis para tratar do cancelamento da aquisição. A orientação aconteceu a partir de uma manifestação em primeira instancia de técnicos do Incra em um processo administrativo, que orientaram pela busca de autorização do Congresso Nacional e demais órgãos competentes antes da transferência do controle da Eldorado, que tem contratos com proprietários de terras envolvendo imóveis rurais.

Incra

A Paper Excellence esclarece que a nota técnica do Incra é um ato administrativo sujeito a recurso, e representa um entendimento sobre um tema que já é objeto de processos em instâncias estaduais e no Supremo Tribunal Federal (STF). A exigência, ou não, de aprovações do Incra ou do Congresso Nacional para a transferência do controle da Eldorado será decidida pelo Poder Judiciário. “A Nota Técnica não será, em nenhuma hipótese, a última manifestação sobre este tema”, diz a notificação.

A Paper sustenta que o Incra não teria poder jurisdicional para determinar a nulidade de um contrato debatido no foro apropriado. A empresa também diz que tomará as medidas necessárias para que os administradores da Eldorado sejam responsabilizados por sacrificar o melhor interesse da companhia e descumprir seus deveres legais e fiduciários para atender “interesses escusos da J&F”.

Para a Paper, a interpretação da autarquia não reflete o melhor entendimento acerca da validade e aplicação ao caso concreto das normas constitucionais e infraconstitucionais que regem a compra de terras rurais no Brasil, dado que, entre outras razões, a empresa comprou um complexo industrial produtor de papel e celulose, não tendo interesse em ser proprietária de terras rurais no Brasil.