Três Lagoas, cidade com 125 mil habitantes, tem 20.895 famílias, cerca de 50 mil pessoas, em situação de pobreza ou extrema pobreza, de acordo com o Cadastro Único (CadÚnico), do governo federal. O número equivale a quase um terço de toda a população do município nesta situação. Famílias em situação de extrema pobreza são aquelas que têm renda familiar mensal per capita de até R$ 105, e as em situação de pobreza, têm renda familiar mensal por pessoa entre R$ 105,01 e R$ 210. Famílias com essa renda se enquadram dentro do programa do governo federal para receber o Auxílio Brasil. Outras estão na baixa renda, que vai de R$ 210 até meio salário mínimo (R$ 606) per capita. Famílias que recebem até esse valor podem se inscrever no CadÚnico.
No Brasil, 17,5 milhões de famílias vivem com renda de R$ 105 por pessoa, segundo o CadÚnico. O Brasil registrou 1,8 milhão de famílias a mais em situação de extrema pobreza nos primeiros meses de 2022, em relação ao fim de 2021. Mas, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, divulgada na semana passada, esse é o maior número de pessoas em situação de pobreza já registrado no Brasil.
O levantamento com base no IBGE leva em conta a definição do Banco Mundial do que é considerado estado de pobreza a partir da renda familiar. São quase 63 milhões de pessoas no Brasil que, no ano passado, viviam em domicílios onde a renda por pessoa não ultrapassava R$ 497 por mês.
O número de famílias nesta situação é reflexo da crise econômica, da inflação e do derretimento da renda dos brasileiros. E diante de tudo isso, está cada dia mais difícil para as famílias sobreviverem dignamente.
Em Três Lagoas, a situação não é diferente, muitas famílias enfrentam dificuldades e sobrevivem também de doações ou com a ajuda de algum benefício social. Cleudimar Vieira Silva é mãe de três crianças. Atualmente, ela e o marido trabalham, mas mesmo assim diz que não tem sido fácil manter a família e encontra dificuldades para comprar, principalmente alimentos. Cleudimar é uma das beneficiárias do Auxílio Brasil e recebe cerca de R$ 300, o que ajuda complementar nas despesas da casa. Ela conta que há três anos deixou o Maranhão em busca de melhores oportunidades em Três Lagoas. “Lá é mais difícil serviço, aqui está melhor”, revela.
Com seis filhos e sem receber o Auxílio Brasil porque foi bloqueado, Daiana Alves, também revela que não tem sido fácil e que sobrevive com a renda do marido que ganha um salário mínimo, além de ajuda dos familiares.
Liliane Santos Costa tem três filhos. O marido que ficou um período desempregado, agora está trabalhando. Ela também recebe R$ 400 do Auxílio Brasil o que ajuda a manter as despesas. Ir ao mercado, segundo ela, tem sido a tarefa mais difícil. “A gente vai ao mercado fica até sem saber o que pegar, tá tudo um absurdo. Antigamente a gente ia ao mercado com R$ 100 e conseguia comprar um monte de coisa, hoje só vem com uma sacolinha. O brasileiro só está trabalhando para comer, roupa nem dá para comprar” revela, ressaltando que, continua na esperança de dias melhores. “Vamos confiando em Deus…”.
Segundo a coordenadora do Setor de Benefícios da Secretaria Municipal de Assistência Social de Três Lagoas, Mariana Cobra Tosta, o número de pessoas cadastradas no CadÚnico só não é maior, porque o cadastro esteve suspenso nos últimos dois anos por conta da pandemia. Para ter direito aos benefícios sociais previstos no CadÚnico, Mariana ressalta que as famílias precisam estar com o cadastro atualizado e cumprir os critérios previstos no programa.