Situada às margens do rio Paraná, na divisa com o Estado de São Paulo, Três Lagoas- terceira cidade mais populosa do Mato Grosso do Sul- completa nesta segunda-feira, 15 de junho, 105 anos de emancipação político-administrativa. Com 121 mil habitantes, a cidade é uma das mais importantes na economia do Estado, e a primeira no ranking de exportações entre as cidades sul-mato-grossenses.
Três Lagoas possui caraterísticas físicas importantes, as quais diferem de outras cidades do Estado e país. A posição geográfica – no encontro das malhas viárias, fluviais e ferroviárias, bem como ampla oferta de terras – são atrativos para a exploração econômica do município, o que fez com que a cidade ao longo dos anos atraísse grandes indústrias.
A cidade é fruto de um dos maiores empreendimentos ferroviários, com 1.600 quilômetros de extensão implantados, da extinta NOB (Noroeste do Brasil). De acordo com o historiador e diretor municipal de Cultura, Rodrigo Fernandes, a cidade teve até agora, três grandes processos de desenvolvimento. O primeiro, com a chegada da ferrovia; o segundo, a construção da hidrelétrica de Jupiá, e o terceiro, com as indústrias de celulose.
Três Lagoas começou a ser desbravada em 1829 com a chegada de Joaquim Ribeiro da Silva Peixoto, que, ao lado dos Garcia Leal, deu início, ainda em 1829, ao processo de reconhecimento de todas essas terras, que hoje formam a extensão desta vasta região da Costa Leste.
Os primeiros posseiros da região foram Januário José de Souza, Inácio Furtado, Januário Garcia Leal, Francisco Lopes, Gabriel Lopes, José Lopes e Antônio Gonçalves Barbosa. Anos depois, Protázio Garcia Leal, neto de Januário, estabeleceu comércio em Itapura e, em 1889, o comércio de sal e mercadorias o fez “descobrir” as três lagoas. Mas, somente a partir da implantação da estrada de ferro, é que deu início ao desenvolvimento do pequeno povoado.
Em 1915, Três Lagoas foi oficialmente criada e desmembrada do município de Santana do Paranaíba, hoje a cidade de Paranaíba.
Três Lagoas, segundo o historiador Rodrigo Fernandes, é peculiar, pois foi “projetada para existir”. Em decorrência da construção da ferrovia no município pela empresa Machado Mello, houve a necessidade de instalação de uma estrutura para dar suporte aos funcionários nas imediações onde seria a travessia no rio Paraná. Uma área de 12 quilômetros da barranca do rio, com três lagoas próximas uma da outra, foi a escolhida pelos engenheiros Justino Rangel de França e Antônio Molina de Queiroz. Ao engenheiro Oscar Teixeira Guimarães coube a missão de traçar uma planta da cidade. E segundo Rodrigo, o engenheiro respeitou um plano moderno de urbanização para a época, ao estilo francês.
A ferrovia gerou novos empregos em Três Lagoas, proporcionou um novo período de crescimento para a cidade, inclusive com a chegada de muitos imigrantes.
Usina de Jupiá marca 2ª fase do progresso
A segunda etapa do processo de desenvolvimento de Três Lagoas, de acordo com Rodrigo Fernandes, se deu a partir de 1961 com a construção da hidrelétrica de Jupiá, concluída em 1974. No período das obras, a cidade recebeu centenas de trabalhadores, que se fixaram em uma vila próxima as obras, que posteriormente se transformou no bairro Vila Piloto. A usina foi a primeira a ultrapassar um gigawatt potência instalada no país e impulsionou o desenvolvimento da região.
O 3º ciclo do progresso chega com a celulose
O terceiro grande ciclo de desenvolvimento, de acordo com Rodrigo Fernandes, se dá por conta da localização da matriz energética da cidade, que foi a instalação das fábricas de celulose a partir de 2009. Três Lagoas tem três unidades de celulose e uma de papel.
O processo de industrialização da cidade, no entanto, começou bem antes com a instalação de outras empresas no Distrito Industrial. Ainda na década de 70 foi inaugurado um obelisco bem na entrada para a Vila Piloto. O monumento, como símbolo do trabalho e da indústria, foi construído na gestão do então prefeito Hélio Congro, que já previa uma cidade industrializada.
Na época, adquiriu da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) essa área para a criação do Distrito Industrial, onde na década de 90, deu-se a instalação de várias indústrias.
Comércio segue impulsionando a economia
Três Lagoas ostenta o título de “Capital Nacional da Celulose” devido as fábricas instaladas no município, mas a cidade já teve a economia pautada na pecuária, e no comércio, que até hoje é um dos principais setores para a geração de empregos no município.
Segundo com o presidente da Associação Comercial de Três Lagoas, Fernando Jurado, o município tem mais de 11 mil empresas. Dessas, seis mil são de pequeno e médio porte, as demais são MEIs. Juntas geram cerca de 25 mil empregos “ Faz 100 anos que o comércio é a mola motriz [ força que impulsiona] da cidade. Nos últimos anos Três Lagoas ganhou muitas indústrias, mas o comércio continua tendo a sua importância no sustento da economia local”, destacou.
Jurado acrescentou que a industrialização contribui para um comércio mais diversificado e forte. “A industrialização trouxe muita gente para empreender, e essas pessoas deram uma nova dinâmica para o comércio. Novos segmentos passaram a ser desenvolvidos na cidade, fortalecendo o comércio que está preparado para atender a demanda”, frisou.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, José Aparecido de Moraes, destaca que o comércio de Três Lagoas é referência regional, atendendo várias cidades da região, inclusive do Estado de São Paulo. No ano passado, Três Lagoas teve instalado o primeiro shopping center, iniciando uma nova etapa no comércio local.