Um grupo de dez voluntários vestiu a camisa da cidadania e criou o Programa Social Comunidade Educa, que tem como principal objetivo manter abertas aos domingos as escolas da rede municipal de educação de Três Lagoas para atividades esportivas e culturais entre os alunos, familiares e a comunidade. O que antes era projeto, há quase um mês tornou-se um programa de sucesso no bairro Vila Verde. Todos os domingos, às 8h, o grupo se encontra com moradores na escola municipal Professora Marlene Noronha Gonçalves para o desenvolvimento de diversas atividades. O empresário e coordenador do programa, Luan Freitas, explicou como é o programa.
JP: De onde surgiu a ideia deste programa?
Luan: Surgiu a partir das reuniões de negócios entre eu e meus amigos, até que um dia nos perguntamos ‘por que não tentar um projeto de cunho social?’. Entramos em contato com um pessoal que coordena um programa, chamado Comunidade Escola, em Curitiba (PR), e o programa paranaense deu o rumo para estruturar nosso projeto.
JP: Como é desenvolvido o trabalho na escola do bairro Vila Verde?
Luan: A gente pretende trabalhar em cinco eixos: cultura, cidadania, meio-ambiente, esporte e lazer e geração de renda que, juntos, proporcionam a evolução das crianças e fortalecem os vínculos entre escola e família. O trabalho é de mão dupla, porque não visamos somente ir à escola e brincar com as crianças da comunidade. Nosso trabalho envolve ouvi-las e tentar orientá-las da melhor forma.
Para tentar desempenhar bem as atividades, agregando os eixos, em cada semana é desenvolvido um tipo de trabalho. Amanhã, por exemplo, será o de cultura, com uma aula de música ministrada por um líder de escola de samba do bairro. Haverá uma apresentação e, em seguida, um trabalho coletivo para tentar identificar possíveis talentos da música.
JP: E com relação às atividades anteriores?
Luan: Em outros domingos realizamos brincadeiras, que envolvem o espírito de liderança, como jogos em equipe e a disciplina das crianças. No domingo passado, realizamos uma atividade bastante inusitada, que foi apresentar a arte do grafite, com o objetivo de revitalizar as cores do prédio da escola e tirar o aspecto “morno” das paredes. Mas não foi somente desenhar e colorir as paredes. Existe uma didática por trás, que ensina a essência dessa arte, o passo a passo do grafite. Além disso, as duas frases escritas “Jesus te ama” e “Os livros mudam as pessoas” passam uma mensagem de valor e resgate, tanto religioso, quanto educacional.
JP: O programa está funcionando há pouco tempo, mas novos projetos já estão em discussão e outros, inclusive, sendo praticados?
Luan: Existe o projeto Restaurar, que está associado ao eixo meio-ambiente. O projeto sai do papel no domingo que vem, dia 13. O objetivo é realizar uma atividade com a comunidade voltada para a reciclagem, com a criação de brinquedos a partir de materiais recicláveis. Além disso, estamos tentando firmar uma parceria com o Senai e oferecer palestras e incentivos aos cursos que abrem vagas na escola. O programa quer dialogar com a instituição educacional e com a comunidade, que é o público-alvo desses cursos.
JP: Por que o programa acontece somente em uma escola de Três Lagoas?
Luan: A escola Professora Marlene Noronha Gonçalves funciona como escola modelo, onde queremos colocar todas nossas ideias em prática e deixar o programa mais perto do ideal, para depois aplicarmos em outras escolas. Quando o programa estiver fortalecido, os diretores das outras escolas serão convidados a aderir.
JP: Como tem sido a adesão da comunidade e a evolução do programa?
Luan: A adesão das famílias tem aumentado a cada evento. Alguns pais já participam das atividades. Para se ter uma ideia, o primeiro domingo reuniu cerca de 100 pessoas e, no domingo passado, quase 200 circularam pela escola.
O nosso desejo é justamente esse, o de criar um sentimento de posse da comunidade pela escola. E mais do que isso, o grupo quer que a comunidade passe a desenvolver projetos dentro da escola. Por exemplo, se uma mãe sabe fazer algum artesanato, ela pode ir para dentro da escola e dar início a um grupo de oficina. A consequência disso é a geração de renda a partir da união dessa comunidade, que é um dos objetivos do programa. Dependendo da proporção que isso pode tomar, existe a possibilidade de uma cooperativa ser criada.
JP: O que ainda deve ser melhorado para que o programa ganhe mais visibilidade?
Luan: O programa está perto de completar seu primeiro de mês em funcionamento, mas ainda acho que temos muito a melhorar e muito a crescer, sem dúvida. É necessário mais engajamento social por parte dos três-lagoenses. Assim, teremos mais voluntários dispostos a trabalhar e, por consequência, mais pessoas serão atendidas. Mais pessoas precisam se sensibilizar para, quem sabe, um dia, todas as escolas da cidade sejam atendidas. A questão financeira é um problema e dependemos de doações.
Todo mundo tem alguma coisa para ensinar. Não só os voluntários. Os moradores do bairro também têm algo para repassar e existe o interesse mútuo em colocar em prática essas oficinas.
Apesar de ainda precisarmos de alguns ajustes e de mais voluntários, não posso reclamar do nosso time. Além dos meus amigos que vestiram a camisa, temos a parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que autorizou a introdução do programa nas escolas; da Polícia Militar, que disponibiliza todos os domingos ao menos uma viatura em frente à escola e também por parte de outras pessoas, que doam brinquedos.
JP: Olhando para a realidade deste bairro, em especial, onde o programa está acontecendo, de que maneira vocês acreditam poder colaborar?
Luan: Algumas crianças chegam à escola com fome. É nítido e muito triste. Para atender a essa necessidade, nos unimos e conseguimos fornecer um lanche durante a ação. O bairro é marginalizado e com um índice elevado de criminalidade. Daí o nosso papel social: resgatar valores e princípios para combater o tráfico, homicídios e outras formas de crimes. Mas, apesar de tudo isso, o bairro, como toda a cidade, é lotada de crianças ‘do bem’, com um potencial enorme para ser explorado, principalmente com relação ao mundo das artes visuais e da música.
Como se tornar também um voluntário
Quem tiver interesse em se tornar um membro do Programa Social Comunidade Educa deve mandar um e-mail para [email protected] ou ir pessoalmente à escola municipal Professora Marlene Noronha Gonçalves, Rua Alaor Pimenta de Queiroz, número 1.667, no bairro Vila Alegre, aos domingos. Quem puder doar materiais esportivos deve entrar em contato com a escola ou pelo e-mail acima.