A doutora em economia e atual secretária de desenvolvimento econômico do Estado de São Paulo, Zeina Latif, foi a segunda palestrante da tarde desta terça-feira (20), no 1º Fórum RCN de Economia. Zeina apresentou um vasto levantamento de dados para mostrar que o Brasil precisa mudar a atual política econômica, fiscal e tributária e iconquistar a sofisticação institucional, com qualidade de ensino, estado forte e eficiente, capacidade de inovar e regras claras, para se tornar um país rico.
Sobre a taxa anual de crescimento brasileira, analisada entre os anos de 1980 e 2019, a economista destacou que está abaixo da taxa anual registrada na América Latina, sendo de 0,68% e de 1,34% em média, respectivamente. Ela ainda enfatizou algumas distorções na política econômica que são difíceis de se corrigir, como a alta carga tributária e o gasto público. Zeina ainda pontuou a questão da intervenção estatal.
"Não é problema ter intervenção mas ela precisa ser cuidadosa. A gente esticou demais essa corda, essa estratégia. E o problema que a gente tem, de forte intervenção estatal, muitas políticas públicas que deixam de ser relevantes, financiadas por uma carga tributária elevada que gera ainda mais distorções na economia… a qualidade do gasto público é ruim, da intervenção é ruim e a gente está financiado ainda mais a carga tributária. E alguns setores são particularmente impactados", disse a economista.
Ela também destacou que a população tem a tendência de culpar os governantes, esquecendo da própria responsabilidade em abrir mão de certos benefícios e/ou de ganhos em prol da coletividade. E citou que uma das dificuldades para a viabilidade do setor econômico brasileiro, dentro da política comercial internacional, é o fato do país "ser extremamente fechado quando se olha para as barreiras tarifárias e não tarifárias".
Também citou o envelhecimento da população como fator de redução do potencial de crescimento. "O ritmo de entrada de pessoas no mercado de trabalho é inferior à saída. Foi importante a Reforma da Previdência, mesmo assim não dá conta da demografia."
Outro ponto é a baixa produtividade do trabalho. "Quando se observa o PIB pelas horas trabalhadas, estamos com a produtividade praticamente estagnada. A produtividade do trabalhador brasileiro equivale a 25% do trabalhador americano, por exemplo." Uma maior qualificação e investimentos em educação, com melhor gestão de recursos, seria o caminho para acelerar ganhos de produtividade e compensar esses problemas.
Sobre a taxa de investimento no país, que tem oscilado em torno de 15% do PIB nos últimos anos, Zeina cita que os Estados Unidos investem até 22% do PIB e por isso tem maior estoque de capital em infraestrutura. Durante a palestra ela evidenciou o fato de que o país segue preso na 'armadilha da renda média' – um termo instituído em 2007 pelo Banco Mundial para definir economias que, após atingirem um nível intermediário de renda, não conseguem ir além, pois perdem a vantagem competitiva nas exportações diante do aumento salarial.
Assim, é mais fácil sair da pobreza e virar renda média do que atingir a condição de riqueza. Seria esse o caso do Brasil, na avaliação de Zeina Latif. "Saiu da pobreza, mas não consegue ficar rico. E o problema é que está cada vez mais difícil sair dessa situação".