Elezita Oliveira é mãe de dois jovens com Transtorno do Espectro Autista: Enzo, de 13 anos, e João Pedro, de 21. Mas, apesar do mesmo diagnóstico, eles reagem de maneiras diferentes, diante de situações semelhantes. Ouvir barulhos do cotidiano, por exemplo, desperta muita agitação.
“[O Enzo] no trânsito, com as buzinas, ele fica em estado de alerta. Ele fala ‘O que é isso? O que é isso? ’. E paralisa. Ele já tem uma reação diferente do João Pedro, que fugia. Ele tinha uma fuga na escola que ele estudava. Próximo ao sinal da mudança [de períodos], ele já começava a levantar e querer sair da sala de aula. E depois, se ele voltava, ele já não escrevia mais, ficava ansioso" contou a mãe.
Segundo André Alvarenga, doutor em Ciências da Educação, pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e Especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA), a individualidade de cada pessoa autista é um fator relevante que deve, sempre, ser respeitado. “Cada pessoa autista é um ser humano único e não é a deficiência que define a pessoa com autismo. Primeiro vem quem eu sou, o que eu faço e depois o autismo”.
Doutor André entende o assunto com profundidade. Afinal, ele também é autista. Na época de escola, ele encontrava as maiores dificuldades durante as aulas de educação física. O barulho e o sol nas quadras sem cobertura sempre o incomodaram. Hoje, aos 44 anos, André é casado e tem um filho.
Alvarenga conta que faltam medidas de apoio, não só para crianças, mas para todas as pessoas autistas. “Faltam políticas efetivas, estruturantes, para a comunidade autista no todo. Não só para criança autista, mas para adultos autistas também. Adolescentes autistas. Por exemplo, se você tem um adolescente autista hoje, que entra em uma fila, e precisa de uma internação psiquiátrica aqui em Campo Grande, não tem lugar nenhum para internar um adolescente com uma crise psiquiátrica no autismo. Tem que ir para o estado de São Paulo, por exemplo.”
Segundo o censo de 2022, realizado pelo IBGE, cerca de 2 milhões de pessoas possuem TEA no Brasil. A hipersensibilidade auditiva é um sintoma comum que atinge grande parte das pessoas autistas, como é o caso do Elias, de 7 anos, filho da professora Rafaela de Souza.
Rafaela conta que também dá aula para 2 alunos com autismo que sofrem com os barulhos. “A hora que toca o sinal, uma das alunas, inclusive, ela coloca as mãos no ouvido. Ela reclama, às vezes depois desse sinal, que dá dor de cabeça. Eles colocam as mãos assim, algo que deve doer muito.”
Mas uma lei publicada no Diário Oficial do Estado desta terça-feira (12) pode aliviar o estresse de alunos autistas, pelo menos durante as aulas na rede estadual de ensino. A proposta do deputado estadual Neno Razuk, do PL, é substituir os atuais sinais sonoros nas escolas por sons musicais. “O sinal sonoro às vezes prejudica, às vezes agride muito, às vezes causa até crises. E essa lei é uma maneira de evitar que tenha essa agressão sonora. Que seja uma questão mais suave, não tenha essa agressão, não seja um gatilho que cause crises, e sim evitando e dando um bem-estar melhor, principalmente a pessoa com deficiência”, disse o deputado.
Ao saber do projeto de lei, o doutor André Alvarenga observou que o desafio será definir um som ideal para os alunos. Segundo Alvarenga, é preciso verificar, além dos decibéis, o tipo do som, já que, trocar pelo tipo errado, pode fazer com que o problema continue.
“Penso que talvez uma música clássica, em um volume adequado. Aí tem que se perguntar para a comunidade autista. “Qual é o volume adequado? ”. Porque o que é adequado para mim, que sou autista, pode não ser adequado para você que não é autista”, comentou o doutor.
Em Mato Grosso do Sul, cerca de 3.400 alunos especiais estão matriculas nas escolas públicas estaduais. Mas a Secretaria de Educação não especificou quantos apresentam TEA.