Uma denúncia levada ao Ministério Público por mães de alunos de escolas e creches públicas de Paranaíba custou o emprego da diretora do Centro de Educação Infantil Antônia Mainardi Ovídio. Daniella Souza Queiroz Silva de Paula foi demitida pela prefeitura da cidade na terça-feira (27) – um depois que pais de alunos levaram a queixa à promotora Juliana Nonato e dois dias após sessenta crianças terem sido medicadas com sintomas de intoxicação no pronto socorro da Santa Casa.
Um abaixo-assinado com 175 assinaturas e laudos médicos de crianças que tiveram vômito e diarreia foi entregue ao Ministério Público para abertura de inquérito.
As mães denunciaram a qualidade da merenda servida em centros de educação da prefeitura.
A reclamação é contra o a implantação de cozinha central para fornecimento de comida às escolas. A “cozinha piloto” foi instalada no início deste ano e também é alvo de reclamações de funcionários das escolas e de professores por meio de vídeos postados em redes sociais. Em um deles a que a reportagem teve acesso, funcionárias da cozinha de uma escola apontam excesso de óleo, além de carne e arroz mal cozidos.
Segundo mães que pediram para não serem identificadas na reportagem, a promotora pedirá explicações à prefeitura no inquérito.
RETALIAÇÃO
Após denúncia no MP, um grupo de pais protestou em frente Ao Centro de Educação Infantil Antônia Mainardi Ovídio contra a exoneração de Daniella de Paula. Os manifestantes isentam a dirigente de responsabilidade sobre a qualidade da merenda e apontam retaliação do prefeito Diogo “Tita” Robalinho de Queiroz (PSD). Procurada pela reportagem, a prefeitura não comentou a acusação.
A secretária de Educação, Maria Eugênia Assis, recebeu um grupo de pais, após a manifestação e não quis comentar a demissão da diretora porque Daniela seria contratada como “cargo de confiança do prefeito”. A cozinha piloto é de responsabilidade da Secretaria de Educação.
Maria Eugênia ouviu reclamações de pais que tiveram filhos internados e diagnosticados com intoxicação alimentar. E admitiu problemas na preparação do alimento servido às crianças.
“A cozinha foi adaptada para cozinhar para toda rede escolar urbana. Houve dias em que a comida não foi bem feita e isso prejudicou os alunos”, disse.
Ao mesmo tempo, afirmou que sua pasta tenta “solucionar o problema”, sem prever um prazo para isso.
SUSPEITA
Uma das declarações de Maria Eugênia revela que a pasta não tem controle total sobre a produção de alimentos. Segundo ela, há suspeita de que uma das cozinheiras não estaria satisfeita com o trabalho e que, por isso, teria “relaxado” na preparação da merenda. Por isso, disse a secretária, uma sindicância interna foi instalada. O nome da cozinheira não foi revelado por Maria Eugênia.
A Vigilância Sanitária da cidade foi à cozinha piloto na terça-feira recolher amostras de água para análise. Também houve coleta na escola onde estudam as crianças que foram internadas.
A secretária disse ainda que pediu explicações de uma nutricionista sobre a comida que aparece em um vídeo postado na internet. A causa do excesso de óleo, segundo ela, seria o cozimento de carne que “por si só solta óleo” durante o preparo.
“Vamos tentar consertar [o problema] de agora para frente, para que não aconteça mais isso. Por que os alimentos em si da merenda escola são de excelente qualidade”, pontuou.
Maria Eugênia, contudo, confessou que nunca acompanhou o preparo e transporte da comida para as escolas. Disse, também, que nunca comeu a refeição servida às crianças e a funcionários públicos. ”Isso é serviço que deve ser feito por técnicos da cozinha piloto”, resumiu a secretária.