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'Preconceito ainda é barreira para diagnóstico do autismo', diz pedagoga

A lei diz que todas as crianças especiais têm direito a uma tutoria em sala de aula para fazer intervenções com a criança quando necessário

Simony Queiroz da Silva, pedagoga e que desenvolve um trabalho de acompanhamento de alunos autistas - Talita Matsushita/JPNEWS
Simony Queiroz da Silva, pedagoga e que desenvolve um trabalho de acompanhamento de alunos autistas - Talita Matsushita/JPNEWS

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo foi comemorado no dia 2 de Abril. A data serve para ajudar a conscientizar a população mundial sobre o Autismo, um transtorno no desenvolvimento do cérebro que afeta cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo. O Autismo pertence a um grupo de doenças do desenvolvimento cerebral, conhecido por “Transtornos de Espectro Autista” – TEA.

Segundo o artigo 7 da lei 12.764 (Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista), o gestor escolar que se recusar a matricular uma criança com transtorno do espectro autista pode ser punido com multa de três a 20 salários mínimos.  A lei diz que todas as crianças especiais têm direito a uma tutoria em sala de aula para fazer intervenções com a criança quando necessário.  Mas atualmente falta capacitação de profissionais dentro das instituições de ensino. E essa capacitação não é algo de outro mundo, ela começa quando se tem empatia: eu tenho enxergar com o olhar do outro, não somente com o meu.

Simony Queiroz da Silva, pedagoga e que desenvolve um trabalho de acompanhamento de alunos autistas diz que o preconceito e a falta de informações são as maiores barreiras.

Jornal do Povo – Você faz o acompanhamento de diversos alunos autistas, hoje do ponto de vista pedagógico, estas crianças tem tido atendimento adequado para sua necessidade?

Simony – Muitos têm, mas uma outra parte não, até por falta de informação dos pais. Nós pedagogos não damos diagnóstico, mas podemos auxiliar com relatórios. Hoje as escolas precisam mais de um auxílio, um cuidado maior. O professor também sofre com isso, pois, se a conscientização não vem de casa, como o professor pode trabalhar a inclusão com os outros alunos. O acompanhamento deve ser feito, mas com a ajuda dos pais, deve ser diversos profissionais e o autista, e este conjunto surte umefeito para que esta criança consiga viver bem e ter uma rotina.

JP – O preconceito é uma barreira?

Simony – Com certeza, em todas as áreas, mas infelizmente o preconceito muitas vezes vem de dentro de casa, e isso dificukta muito. A área da educação tenta entender cada dia mais, hoje temos diversos estudos sobre o Autismo e o diagnóstico é 100% comportamental, o professor na escola muitas vezes consegue identificar. Muitas vezes quando os pais são abordados eles não aceitam.

JP – Algumas crianças por conta do Autismo deixam de frequentar as escolas?

Simony – É um direito deles, e eles necessitam, pois hoje temos diversos níveis de Autismo, alguns são muito inteligentes. Não podemos deixar eles não frequentarem escolas por conta disso. O acompanhamento do professor é tão importante, tanto quanto outros profissionais, como fonoaudiólogos ,por exemplo. Eles podem e devem frequentar as escolas, isso é inclusão e devemos incluir cada dia mais.

JP – Os professores estão preparados para lidar com o autista?

Simony – O fato de estar preparado ou não é difícil de falar. A teoria é uma coisa a prática é diferente, eu por exemplo sabia o que era o autismo, mas na prática eu entendi como é o mundo deles. Os professores que estão capacitados, muitas das vezes, não conseguem desenvolver porque ele está sozinho numa sala com um número muito grande de alunos. Mas eu acredito que poderia ser mais desenvolvido com capacitação como cursos e palestras. São mais de 2 milhões de casos no Brasil e esse número não é pouco e precisamos entender, Antigamente o nível 1 era conhecido como déficit de atenção.

JP- Como educadora, qual seria seu sonho  para o atendimento dos autistas?

Simony – Que quebrássemos esta barreira e tivéssemos o neuro e o psiquiatra infantil na rede pública e que não fosse tão difícil o acesso ao diagnóstico, isso impede o autista de ter um acompanhamento. Temos diversos profissionais que atuam pelo SUS, mas que estão sobre carregados, porque a procura é muito grande, e isso impede o acompanhamento. Meu sonho é ver isso ampliar cada vez mais. As pessoas também precisam ver o autista de uma forma diferente, o autismo não tem cura, e estas pessoas diagnosticadas tem uma vida e a sociedade precisa aceitar isso e não ver ele como agressivo, eles têm crises, mas são pessoas que também ama e isso precisa ser respeitado.

Confira a íntegra da entrevista: