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Desafio Jovem Peniel enfrenta crise financeira sem apoio do Poder Público

Desafio Jovem Peniel se destaca como um dos projetos mais importantes de recuperação de dependentes químicos

Por Ana Cristina Santos
21/09/2024 • 11h00
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E m Três Lagoas, o Desafio Jovem Peniel se destaca como um dos projetos mais importantes de recuperação de dependentes químicos, atuando há 45 anos de forma ininterrupta na cidade. Na sexta reportagem especial sobre a situação das instituições que desenvolvem um papel importante em Três Lagoas, hoje destacamos o trabalho desse projeto, vinculado à Igreja Batista Peniel.

O projeto Desafio Jovem Peniel oferece um espaço de acolhimento e tratamento para homens e mulheres que lutam para superar a dependência de substâncias psicoativas, utilizando um modelo que combina espiritualidade, convivência entre pares e laborterapia. No entanto, apesar da relevância e do impacto positivo, o projeto enfrenta sérios desafios para se manter devido à falta de apoio governamental.

O pastor Tiago Alberto Rocha, responsável pelo projeto Desafio Jovem Peniel, explica que o tratamento é voluntário e estruturado em três pilares fundamentais. O primeiro é a espiritualidade, onde os ensinamentos de Jesus Cristo são apresentados como suporte para ajudar os internos a desenvolverem autocontrole e abandonarem o vício. O segundo pilar é a convivência entre pares, essencial para criar uma rede de apoio e incentivos ao progresso coletivo. Já o terceiro pilar, a laborterapia, envolve atividades que estimulam o trabalho manual e a reintegração à sociedade.

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No momento, o projeto atende 24 homens em sua fazenda e 5 mulheres na unidade feminina, na Vila Alegre. A demanda, no entanto, é muito maior do que a capacidade de atendimento, com uma lista de espera que já acumula 10 mulheres à procura de tratamento. O tempo de permanência varia: para os homens, são 90 dias, enquanto as mulheres permanecem em tratamento por quatro meses. Contudo, esse período pode ser prolongado conforme a resposta individual ao tratamento.

A falta de apoio governamental é um dos grandes obstáculos enfrentados pelo Desafio Jovem Peniel. Atualmente, a única colaboração oficial vem do Poder Judiciário da cidade, que cobre cerca de 40% das necessidades financeiras do projeto. O restante depende de ações voluntárias, muitas vezes recebidas de membros da Igreja Peniel ou de outras igrejas. “Nós já tentamos buscar apoio da prefeitura e do Governo do Estado, mas sempre enfrentamos dificuldades burocráticas. Eles nunca sabem se nosso trabalho se enquadra na área da saúde ou da assistência social”, relata o pastor Tiago.

Essa indefinição reflete a falta de compreensão sobre a importância de iniciativas como o Desafio Jovem Peniel. Em Três Lagoas, não há locais públicos de internação para dependentes químicos, sendo que o único serviço disponível é o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), que não oferece tratamento em regime de internato. 

O impacto social do Desafio Jovem Peniel é inegável. Muitos pastores em atividade hoje passaram pelo processo de recuperação no próprio projeto, evidenciando o sucesso do tratamento a longo prazo. Além disso, a demanda por vagas aumentou consideravelmente após a pandemia de Covid-19, que intensificou os problemas de dependência química em todo o Brasil. “Temos pessoas de outros estados, como São Paulo e Minas Gerais, buscando ajuda aqui. A demanda é alta, e o que impede nossa expansão é a falta de capital e de pessoal capacitado”, revela o pastor Tiago.

Todos os que trabalham no Desafio Jovem Peniel, tanto na unidade masculina quanto na feminina, são voluntários. “Ninguém recebe salário. São pessoas que, muitas vezes, já passaram pelo tratamento e dedicam suas vidas para ajudar outros na mesma situação”, explica o pastor. Essa dedicação reflete a essência do projeto: um trabalho de entrega, movido por amor ao próximo. O pastor destaca que o projeto segue firme em sua missão, mas é evidente que o apoio do poder público é fundamental para expandir e atender a um número maior de pessoas. 

A prefeitura confirmou o valor do Desafio Jovem Peniel, mas afirma que o projeto não cumpre as exigências legais para receber repasses públicos, e precisa estar cadastrado em conselhos representativos para que, assim, seja legalmente possível qualquer repasse do ente público.

A luta é diária, mas a vitória é possível

Marcos Vinícius Saqueto, de 44 anos, tem uma história de superação. Após passar cerca de 20 anos preso ao vício em álcool, crack e cocaína, ele encontrou no Desafio Jovem Peniel o apoio necessário para transformar sua vida. Hoje, três anos após retornar à instituição, Marcos trabalha no ministério, ajudando outros a superar suas próprias batalhas contra a dependência química.

Marcos começou a usar drogas aos 19 anos. Aos 22 anos, já estava envolvido com crack, uma das drogas que mais o debilitou ao longo das duas décadas. “Foi sempre um levantar e cair”, reflete Marcos sobre os altos e baixos dessa jornada. Ele tentou se recuperar em outros lugares, mas foi no projeto da Peniel, em 2018, que encontrou uma abordagem que combinava tratamento com espiritualidade. “O tratamento é diário. A luta não acaba em seis meses”, diz Marcos, referindo-se ao período oferecido pela instituição. Para ele, a chave para sua recuperação foi se abrir para a espiritualidade e entender que o apoio emocional e espiritual contínuo era fundamental. “Temos que batalhar todos os dias contra o vício”

Marcos é grato aos líderes e pastores que o ajudaram a seguir em frente, orientando-o espiritualmente e ajudando-o a encontrar forças onde antes parecia impossível. “Muitas vezes, nossa mente nos faz pensar em retroceder, mas a liderança espiritual te orienta, te aconselha, e isso é muito importante”, destaca.

Hoje, além de seu próprio progresso, Marcos dedica seu tempo a apoiar outras pessoas na mesma situação em que ele esteve. Ele vê a importância de mais projetos como o Peniel para ajudar aqueles que estão nas ruas, presos ao ciclo das drogas e do álcool. “Muitas famílias gritam por socorro. Precisamos de mais mãos contínuas. É muito difícil para aqueles que não têm ninguém para ajudá-los”, ressalta. 

Juliana Barbosa Lino, de 46 anos, mãe e avó, sempre trabalhou como vendedora e veio de Jardim para Três Lagoas em busca de emprego. Ao chegar na cidade, enfrentou um período difícil e começou a usar cocaína, permanecendo dependente por oito meses. “Era uma fuga da distância familiar e da tendência à depressão”, relembra.

Ela encontrou apoio no projeto Desafio Jovem Peniel, que foi essencial para sua recuperação. “Há cinco meses eu estava com 47 quilos e sem perspectiva de futuro. Hoje, estou no meu peso normal e bem”, conta Juliana, que agora atua como voluntária no projeto e deseja continuar ajudando outras pessoas em Três Lagoas.

 

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