O número de registros de enxames no perímetro urbano em Três Lagoas dobrou este ano se comparado com o anterior e chama a atenção do Corpo de Bombeiros. De acordo com dados da corporação, foram registradas 169 ocorrências para a retirada ou extermínio dos insetos que, em muitos casos, atacaram moradores em ruas e avenidas da cidade. O total corresponde a média de 15 registros por mês, entre janeiro a novembro, segundo a instituição.
Um dos motivos apontados pelo comandante do Corpo de Bombeiros de Três Lagoas, tenente-coronel Marcelo Olassar Ramires, está relacionado ao crescimento da cidade e a expansão das indústrias na região. Com isso, as abelhas estariam migrando da área rural para a urbana. “As plantações de eucaliptos, por exemplo, podem estar ocasionando essa migração. Novos produtos que também começam a ser fabricados na redondeza fazem com esses insetos deixem o habitat natural e procurem outro”, pontuou o coronel.
O levantamento de casos registrados, segundo Olassar, coloca o município em destaque entre os demais da região do Bolsão na área de remoção de insetos. O oficial frisa que um estudo sobre a questão deverá ser feito por uma equipe da instituição para analisar o que de fato estaria provocando a “invasão das abelhas”.
Somente no mês de novembro foram atendidas 10 ocorrências em bairros de Três Lagoas. Um deles é o Jardim Angélica, onde os bombeiros isolaram parte da calçada de uma casa após o enxame de abelhas se alojar no poste de energia elétrica e atacar pedestres. O fato foi na rua Paranaíba.
Muitos pedestres que passavam pelo local foram pegos desprevenidos e, outros, só conseguiram evitar o ataque porque os moradores avisaram. “Apareceu da noite para o dia. Levei um susto quando vi o enxame no poste e as abelhas voando pelo local. Uma pessoa passou sem saber que elas [abelhas] estavam ali e levou picadas. Aí comecei a avisar todo mundo que estava andando pela avenida e perto do poste”, relatou a comerciante Cristina Medeiros.
A área foi isolada no último dia 18. A dona de casa Ivone Pereira, proprietária da residência, contou que enfrentou dificuldades para passar pelo portão. Como o poste fica próximo, o risco de levar uma picada ficou maior. “Meu filho nem conseguiu passar pelo portão de medo. Preocupo também porque tenho uma criança em casa que pode acabar sendo vítima das abelhas”.
Na avaliação da professora de zoologia e doutora na área de insetos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Maria Elisa Rebustine, o município passa por um período de transformação e crescimento, o que tem ocasionado a proliferação de insetos no meio urbano. “Podemos constatar o fato não apenas com abelhas, mas besouros e outros tipos de insetos. A área urbana está se expandindo, a floresta nativa diminuindo e passa-se a cultivar a monocultura de eucalipto. Situações essas que devem ser observadas e consideradas”, avaliou.
Observa ainda que a migração destes insetos não é muito comum nesta época do ano e, sim, durante o período de queimadas, de maio a outubro. Quanto aos ataques de abelhas, a professora observa que só ocorre quando a colônia é desestabilizada por barulhos provocados pelo trânsito ou movimentação de pessoas.
“Se você não mexe, [o enxame] não ataca. Contudo, isso pode acabar acontecendo se houver muita movimentação próxima ao ninho, principalmente, área urbana”, concluiu. Por isso é importante ficar em alerta quanto ao manuseio das abelhas.
A orientação do Corpo de Bombeiros é que a população não tente remover esses insetos sozinhos, e acione os bombeiros. A retirada da colméia acontece no período noturno, pois o risco de se alvoraçarem é menor. A picada do inseto pode gerar complicações à vítima, até mesmo a morte, em caso de alergia.