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2012, ahora da escola

Dizer que São Paulo retrata o Brasil já é um lugar-comum inevitável. A cidade ostenta, em números, grandezas que envaidecem e consternam os brasileiros. Com uma população de 10,88 milhões de habitantes – ou quase 19 milhões, se considerada a Região Metropolitana –, o município recebeu em 2010 perto de 12 milhões de visitantes nacionais e estrangeiros. Desse universo, 56,1% vieram a negócios, pois aqui estão 38 das 100 maiores empresas privadas de capital nacional e 63% dos grupos internacionais instalados no Brasil.
Os números são expressivos em todas as áreas: 1.769 estabelecimentos de saúde, 40 hospitais públicos, 61 hospitais particulares, 24.957 leitos hospitalares, 99 bases móveis da polícia militar, 93 distritos policiais, quatro postos do Poupatempo, 146 faculdades, 26 universidades e 22 Centros de Educação Tecnológica, 110 museus, 260 salas de cinema, 40 centros culturais, 64 parques e áreas verdes, estádios de futebol, autódromo internacional, 37 mil táxis, 1.335 linhas de ônibus, cinco linhas de metrô, a segunda maior frota de helicópteros do mundo e três aeroportos – ou quatro, com Viracopos.
Na contramão desse esplendor, a cidade viu o índice de emprego recuar 3,2% em junho deste ano, a maior queda da série histórica da pesquisa do Dieese, iniciada em 1989, com 55 mil vagas fechadas no mês; triplicaram os roubos de veículos; registra-se uma virulenta onda de assaltos e de arrastões a bares e restaurantes; e a grande metrópole se vê cercada por um cinturão de favelas que muitas vezes transborda para o entorno, um extravasamento populacional que, no dizer do IBGE, só não afeta a zona Norte, onde a serra da Cantareira se tornou um biombo natural. Mas, de acordo com denúncias das comunidades organizadas da região e o alerta de organismos das Nações Unidas, até mesmo esse escudo está hoje ameaçado, se as obras do rodoanel forem realizadas com os equívocos de seu planejamento.
O município de São Paulo – ao mesmo tempo em que reflete a cultura urbana brasileira, as mesquinharias, o descaso e o descompromisso de sucessivos (des)governos, também é modelo de pujança tantas vezes cantada em verso e prosa na cultura e nas artes do país – apresenta dados que revelam sua face mais obscura, a causa maior dos males com que o presente ameaça o futuro: uma educação de qualidade pífia, onde o decantado processo ensino-aprendizagem simplesmente não acontece. Repita-se: não acontece.
Para traduzir esse descalabro, os números também são grandiosos. Aproximadamente 20,2% da população estão em idade escolar (entre 4 e 17 anos) e apresentam na Prova Brasil (Ideb) resultados de 183,2 e 204,3 pontos para o 4o ano do Ensino Fundamental em português e matemática, respectivamente. Para essas disciplinas, os mínimos aceitáveis (Todos pela Educação) situam-se em 200 e 225 pontos. No 8o e no 9o ano, o fracasso é ainda mais significativo: 235 e 236,1 pontos para português e matemática, contra os mínimos aceitáveis de 275 e 300 pontos. Em outras palavras: apenas 26,2% dos estudantes do 4o e do 5o ano e 16,4% dos do 8o e do 9o ano apresentam desempenho mínimo ou superior em português. E apenas 21,6% dos estudantes do 4o e do 5o ano e 7,5 % dos 8o e do 9o ano apresentam desempenho mínimo ou superior em matemática. Os dados sobre o Ensino Médio são ainda mais aziagos.
A questão é administrativa? Não! Definitivamente, essa é uma questão política. São Paulo está, como de resto todo o Brasil, diante de momentos absolutamente decisivos na história, pois, pela primeira vez, a abundância de recursos financeiros irrigará a teimosia triunfante, o esforço e a criatividade do povo brasileiro. Não há exagero em dizer que o pré-sal é o pré-Brasil que nenhum de nós ousara sonhar. A hora – claro! – é de grandes consertos, de correção de rumos, de calibragem nas contas e na destinação de recursos. As políticas públicas devem voltar-se para as necessidades urgentes, mas sem perder, nem por um momento sequer, a estratégica visão de futuro, sem a qual todas as esperanças de uma nação pacificada ficarão inapelavelmente comprometida s.
A quem cabem as providências saneadoras? Nossa tradicional cultura de delegação de responsabilidades poderá apontar, de imediato, o poder público. E isso é correto, pois aí está o agente das transformações. Mas essa abstração tem uma correspondência humana, vale dizer, são pessoas que ocupam os cargos que perfazem aquilo que chamamos de poder – pessoas que são escolhidas pela população em processos eleitorais claros, livres e soberanos.
Assim, faça-se uma correção: as providências saneadoras cabem, em primeiríssimo plano, à população de São Paulo. Nenhum candidato no comando dessa cidade poderá fazer-se alheio ao que hoje ocorre na educação das nossas crianças e dos nossos jovens. Só o candidato que colocar a Educação como prioridade absoluta do governo municipal, com diretrizes, objetivos e metas claras e mensuráveis, sem meias palavras ou subterfúgios, merecerá o voto do paulistano.
A Educação qualificada é a plataforma política e é o programa de governo. Tudo o mais são protelações inaceitáveis e a ameaça da repetição caduca das mesmas palavras bonitas e vazias perenizando tudo aquilo que a consciência cidadã repudia.

Gilberto Alvarez Giusepone Jr. é professor