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Opinião

A barreira do idioma

Mesmo quando não são levantadas suspeitas de fraude, como ocorrido em anos anteriores, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) gera polêmica. Neste ano, os especialistas questionaram o peso dado à redação que, no cômputo final, equivale à metade da média total. A outra parte da nota é formada pelo cruzamento dos resultados de 180 testes de linguagem, matemática, ciências da natureza e ciências humanas.
 Ao lado da desproporção do valor dos quesitos, os críticos apontaram a diferença na confiabilidade da correção das provas. Isso porque as respostas a perguntas de múltipla escolha podem ser checadas eletronicamente, mas os textos dependem de critérios subjetivos de bancas. Querelas à parte, é preciso convir que o domínio da língua portuguesa e da habilidade de com ela se expressar por escrito é essencial, especialmente no mercado de trabalho, para o bem da clareza e confiabilidade das informações e orientações.
 Entretanto, um passado marcado por altíssimas taxas de analfabetismo – há 60 anos, exatamente metade da população era formada exclusivamente por iletrados – continua cobrando seu preço, bem como as deficiências nunca sanadas que continuam a defasar a educação brasileira em relação às demandas do mundo moderno. De modo geral, a escrita do brasileiro ainda é permeada por arraigados vícios da linguagem oral e, fato mais recente, profundamente afetada pelo internetês, com suas palavras abreviadas ou propositalmente grafadas de forma errônea.
 Independentemente da área de atuação, cedo ou tarde, a habilidade em se comunicar por escrito será cobrada dos trabalhadores, seja na elaboração de relatórios, manuais, e-mails profissionais, orçamentos ou, no caso dos jornalistas, de reportagens que não deixem margem a dúvidas. Não é por outra razão que quase todos os candidatos a estágio são submetidos a provas de redação. Logo, quanto mais cedo os estudantes descobrirem a importância de produzir textos bem escritos e com ideias concatenadas, maiores serão suas chances de começar a construir uma carreira com o pé direito e longevidade. Pensando nisso, o CIEE desenvolve uma série de ações para fazer sua parte, promovendo o gosto dos jovens para a escrita e, consequentemente, aumentando sua empregabilidade. Além de oficinas gratuitas pela internet dedicadas a comunicação e expressão, promove concursos literários em parceria com a Academia Brasileira de Letras (ABL), com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Aqueles que quiserem começar a praticar, podem acessar já o site www.ciee.org.br e obter mais informações sobre os cursos e concursos. O interesse dos jovens por esse tipo de estímulo tem sido crescente, indicando que está em formação novas gerações de profissionais cada vez mais capacitados que tratarão bem a Língua de Camões.
 
Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do CIEE, da APH  e diretor da Fiesp