Reconhecidamente, o setor da construção civil tem papel fundamental no desenvolvimento do país, e desta forma se torna peça chave para o atendimento dos objetivos globais do desenvolvimento sustentável. A indústria da construção é uma das atividades humanas que mais consome recursos naturais. Estima-se internacionalmente que entre 40% e 75% dos recursos naturais existentes são consumidos por esse setor, resultando assim em uma enorme geração de resíduos. Só no Brasil, a construção gera cerca de 25% do total de resíduos da indústria.
A cadeia produtiva da construção tem um peso grande também em termos de emissões de carbono. Segundo a UNEP (United Nations Environment Programme), as edificações respondem por 40% do consumo global de energia e por até 30% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEEs) relacionadas ao consumo energético.
À medida que a urbanização avança – mais de 80% da população brasileira vive atualmente em áreas urbanizadas – medidas relacionadas à sustentabilidade deverão ser adotadas para garantir a elevação da qualidade de vida da população. Acompanhamos um recente boom em certificações de prédios sustentáveis no Brasil e ocupamos hoje a 4ª colocação em número de empreendimentos certificados no mundo.
Em consonância com esta tendência, acaba de ser lançado na CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), o Guia Metodológico para Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa na Construção Civil – Setor Edificações. O guia foi elaborado pelo Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) em parceria com as grandes empresas do setor da construção e visa padronizar os critérios a serem considerados durante o ciclo de vida do empreendimento e a metodologia de cálculo a ser utilizada para se elaborar o inventário de GEE das obras.
A intenção deste projeto é antecipar o setor às normas e regulamentações, cada vez mais comuns, que estão ditando as novas diretrizes sobre emissões de carbono no Brasil. A própria CETESB publicou em 2012 a Decisão de Diretoria nº 254, que dispõe sobre os critérios para a elaboração do inventário de emissões de gases de efeito estufa no Estado de São Paulo e exige de diversos setores da indústria o reporte anual de seu relatório de emissões.
O guia publicado instrui as empreiteiras e construtoras a calcular as emissões de carbono durante o empreendimento. Nesta primeira versão, o guia se limita a considerar as emissões da fabricação e transporte dos materiais assim como a execução da obra propriamente dita. Nas próximas edições do documento, este escopo de emissões se estenderá desde o período de uso e manutenção do empreendimento até seu destino final, seja o retrofit do prédio ou sua demolição.
Esta é uma ótima iniciativa lançada pelo Sinduscon-SP, o qual pretende sensibilizar todo o setor da construção civil para as questões ligadas à construção sustentável, uma vez que grande parte das emissões se dá na fabricação dos materiais utilizados na obra. Para que se torne uma ferramenta eficiente e precisa, é necessária a adesão de toda a cadeia de fornecedores, o que pode ser um grande desafio, mas trará benefícios às empresas ao proporcionar diretrizes para a gestão das emissões de gases de efeito estufa de seus processos. Esta, certamente, é uma iniciativa pioneira que irá amadurecer bastante nos próximos anos, resultando assim em grandes avanços e maior eficiência para todo o setor.
*Henrique Mendes é bioquímico com MBA em gestão ambienta