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A crise da Previdência Aberta, um dos planos de previdência

 Em diversas oportunidades escrevi sobre a Previdência Aberta, um dos planos de previdência, apontando para os seus riscos, de única responsabilidade dos investidores neste tipo de seguro.

Mostrei que a Superintendência de Seguro Privados, a tal SUSEP, não fiscaliza nada. Acho que nem fiscais tem. Mostrei que nem o Banco Central sabe onde estão aplicados os recursos, estimados hoje em R$ 130 bilhões, captados de uma massa de investidores de 12 a 13 milhões de pessoas.

Deixei claro que os “planos de previdência” são produtos de um mercado financeiro, de alta volatividade, que depende do “humor” das bolsas de valores, daqui e do mundo, e que suas aplicações estão atreladas ao comportamento das taxas SELIC.

A farsa é que tais títulos são apresentados aos investidores como “planos de previdência” em um país que detonou a Previdência Social pública, por ordem do FMI, reduzindo seus benefícios a um salário mínimo.  Cumprindo esta determinação em detrimento de nossa soberania, direcionou milhões de brasileiros para a busca de uma aposentadoria acima do mínimo, especialmente aqueles assalariados que ganham mais de dois mínimos. A massa de um mínimo foi descartada.

Neste cenário de um INSS que já paga 80% de benefícios de um salário mínimo a quase 24 milhões de seus 30 milhões de beneficiários.

Os “planos de previdência” ganharam espaço e competitividade.

Dimensionaram o mercado em 40 milhões de clientes e atacaram cobrando altas taxas de administração e carregamento. Enquanto a SELIC esteve acima de 10% ao ano, foi possível aos bancos e seguradoras engordar seus ativos, com o governo, de forma escabrosa, estimulando com isenção do Imposto de Renda. O mesmo governo que cobra previdência dos inativos púbicos que não podem e aposentar de novo. Uma iniquidade e uma vilania.

O mercado nadou de braçada, o que não me impediu, através da ANASPS, de alertar para os riscos que pegariam na frente os contribuintes.

Neste momento, quando a SELIC vai descendo a ladeira e a Presidenta Dilma insiste que o Brasil vai ter juros “decentes”, bancos e seguradoras vão apresentar a conta dos “planos de previdência” ao governo e aos investidores.

Enfim se tornaram um mau negócio para bancos e seguradoras que chafurdam na lama da especulação financeira.

Resultado prático é que como o governo ainda não disse se vai “desonerar” IR, IOF, compulsório, etc, como vem generosamente fazendo com outros setores, não para beneficiar o incauto investidor, mas bancos e seguradoras. Se o governo cruzar os braços, restará aos investidores pagar a conta.

Os contratos serão rasgados e o investidor terá que assinar um ajuste e se sujeitar a uma nova contribuição maior.

O que eu quero deixar claro é que esperteza tem perna curta e que inegavelmente é curto o horizonte dos brasileiros que um dia sonharam em ter uma aposentadoria digna. A do INSS com teto hoje inferior a cinco salários mínimos, francamente um disparate para quem ganha hoje R$ 6.220 reais mensais, dez mínimos.

Paulo César Régis de Souza é presidente da Associação dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social.