A ética está em crise. O ser humano não sabe mais estabelecer as relações de valor de humanidade com os outros. Tal crise é a falta de cuidado com as crianças, com os idosos, com os bens públicos e com a natureza. A batalha pela vida consistirá na busca de um fundamento ético mais humano, onde o ponto de partida e de chegada seja o ser humano em toda sua essência.
O mundo passa por grandes transformações, novas tendências revolucionaram padrões clássicos de comportamento, enquanto importantes instituições se modificam. Uma nova ordem mundial se organiza, alterando valores, expectativas, sonhos; outras formas de pensar se instauram.
A situação socioeconômica atual nega a maioria das pessoas de ter vida digna. Assim é que a ética do cuidado vai surgir, é no meio de uma sociedade conflitiva que estaremos buscando novas maneiras de nos relacionar.
Vivemos em um mundo historicamente marcado por contradições e desafios. A chamada “era da globalização” é na verdade a “globalização do terror”. O novo século está marcado pelos estigmas do século passado, em que as guerras, a acumulação de rendas, os totalitarismos e o uso perverso das ciências com finalidades destrutivas elitistas, a ampliação do poder massificante e desumanizador da indústria cultural, todas essas realidades vivenciadas pelas sociedades humanas ainda marcam nosso agir.
Por exemplo, a questão da segurança, a violência é um produto da desumanização da sociedade, gerada pela primazia dada pelo neoliberalismo ao mercado. Desta forma, as sociedades humanas acumulam injustiças e contradições sociais. As cidades crescem sobre relações frias e normas impessoais; a violência atinge índices nunca antes pensados. O nosso progresso tecnológico não foi acompanhado pelo progresso moral, sendo assim, amplia-se a necessidade de fundarmos novos parâmetros éticos.
Penso que para iniciarmos o processo de humanização do mundo, devemos partir de um comportamento que desabroche da própria essência humana. Há uma tradição que vem dos romanos, e que não teve muito sucesso no ocidente, que define o ser humano não como ser de razão, nem como ser de vontade, nem como ser de liberdade. Mas define o ser humano como ser de cuidado. O filosofo Martin Heidegger, em seu livro principal “Ser e o Tempo”, dedica mais de 40 páginas comentando essa definição do ser humano como ser de cuidado.
O teólogo Leonardo Boff define claramente em sua obra “Saber Cuidar – É tica do Humano – Compaixão pela Terra” (Editora Vozes), que “tudo que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver: Uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta terra”… Segundo o teólogo, o termo “cuidado” abrange dois significados. O primeiro é desvelo, solicitude, diligencia zelo, atenção e bons tratos para com o outro. O segundo implica em intimidade e respeito.
Uma das grandes ilusões da cultura moderna foi confiar tudo à razão. O ser humano é um ser de razão, mas também de sentimentos, criatividade e cuidado. E hoje nós sentimos os efeitos dessa “lobotomia”.
A fome e a violência estão devorando o mundo e não fazemos nada, há uma maquina da morte montada contra a vida. E ficamos inertes. Por quê? Não se mobilizou o sentimento profundo que toca a nossa pele e que aquilo nos diz respeito e que devemos nos comprometer e agir.
Enfim, esta nova proposta de uma ética do cuidado, surgiu como necessidade para construirmos a partir de agora em nossos relacionamentos, um mundo mais humanizado. No entanto, esta nova alternativa pressupõe um redimensionamento da visão, sobre si mesmo, o cosmo e o transcendente. Precisamos pensar também com o coração, pois os caminhos para que deixemos de ser espoliadores passa pelo cuidado com o planeta, atenção com os pobres e oprimidos, excluídos, respeito ao próprio corpo, a alma e um dialogo aberto com Deus.
Jânio Batista de Macedo é filósofo e pedagogo