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A gurizada deu um"banho" nos partidos

Gostei muito do que vi em Campo Grande na noite de ontem. Mais de 60 mil pessoas caminhando pelas ruas da Cidade Morena  com o objetivo de protestar contra as graves injustiças sociais que teimam em infernizar a vida de uma parte muito expressiva da população brasileira. Principalmente daqueles que vivem da venda da sua força de trabalho. 

O clima era o melhor possível. Famílias inteiras, inclusive com crianças, empunhavam cartazes com criticas a corrupção, a politica econômica, aos juros altos, a discriminação sexual, entre outros temas, inclusive alguns que são caros ao pensamento conservador, como a mudança na maioridade penal e a criminalização do aborto.  


O ato, na verdade, foi marcado pela diversidade. Em todas as dimensões podia ser ver o pluralismo. Tinha discurso para todos os gostos. À esquerda, a direita e o centro estavam muito bem representados. 


Não havia lideranças especificas comandando a marcha. As coisas eram resolvidas por meio do improviso. Também não vi representantes de partidos políticos ou de entidades da sociedade civil. Não achei esse fato nem certo e nem errado. Achei diferente. A gurizada organizou o ato com o nível de consciência que possui.  


Os partidos políticos, no geral, embora sejam necessários e importantes no processo democrático, vem dando maus exemplos aos jovens. Não estão servindo como parâmetro. Daí a desconfiança da gurizada. 


A linha politica da manifestação tinha muito do pensamento anarquista. Isso pode ser creditado à ausência de lideranças mais experimentadas, por um lado, por outro, expressa muito do pensamento juvenil. O jovem, no geral, não gosta dos políticos e da politica. É arredio as formas convencionais de luta. 


Mesmo assim achei muito positiva a manifestação e a direção que eles empreenderam. Não permitiram que criticas localizadas fossem expressas nos cartazes. Tanto que não vi cartazes contra Dilma, Bernal, Nelsinho ou André. Aqueles que tentaram expor cartazes com criticas politicas pontuais foram convidados a se retirar ou a guardar as mensagens. 


Não vi baderna, embora, no final, tenham sido registradas algumas cenas de vandalismo contra o patrimônio público e privado, algo pequeno, mas, contrario ao espirito da manifestação.


Alguns amigos ligados aos partidos considerados de esquerda não gostaram de terem sido excluídos da direção do protesto. Provavelmente porque durante anos foram eles que lideraram essas manifestações. O problema é que as coisas estão mudando. Não sei se para melhor. 


As mídias sociais, com suas potencialidades e suas debilidades também, sob a liderança da gurizada, podem contribuir para mudar o Brasil e o mundo. Pode não dar em nada também. 


Daí que é preciso que lideranças experimentadas entrem no debate. Ficar reclamando pelos cantos, com ciúme, não ajuda em nada. 


*Eronildo Barbosa é professor universitário e doutor em educação. Email: [email protected]