Noto que Marina Silva, pela sua biografia, por ela mesma divulgada, de mulher simples, humilde, pobre, seringueira, que veio para a cidade grande, alfabetizou-se já com certa idade e acabou vencendo com grande sacrifício, tende à indecisão.
Sua bandeira sempre foi o meio-ambiente, o “futuro de nossos filhos”, a preservação da natureza para garantir “um mundo melhor”. Ok. Parecem obviedades, mas foi com essa bandeira que 20 milhões de brasileiros se identificaram.
Quando Marina diz que vai consultar suas bases e, principalmente, os segmentos sociais com quem fizemos alianças, está jogando o assunto para decisão coletiva. Parece democrático e até justificável que assim seja.
Mas o tempo urge. Isso a leva a uma certa indecisão pessoal, que beira à perigosa saída da liberação dos eleitores para votarem em candidatos de sua preferência. É sobre esta hipótese que desejo refletir um pouco aqui.
É claro que os 20 milhões de brasileiros votaram por três
razões evidentes. Votaram por repelir o PT, votaram por repelir o PSDB, votaram por adoção das bandeiras de Marina Silva e Chico Mendes. Basicamente, isso.
Alguns poucos votaram por gostar da idéia de uma mulher, de verdade, na
Presidência, e Marina tem esse perfil, frágil mas inteligente. Liberar os eleitores, feita essa observação, pode até ser razoável, pois a divisão continuará na mesma proporção.
O problema é que todos, absolutamente todos os 20 milhões
que votaram em Marina, lembram-se com sangue nos dentes da demissão da Ministra Marina por Dilma Roussef. Claro, Lula poderia ser mais homem e demiti-la pessoalmente, tal era o grau de amizade entre eles. Mas preferiu dar o facão para Dilma, a mesma que pediu a cabeça da amazonense. Esse povo, dificilmente votará em Pacdilma.
Além do que, na memória desse importante eleitorado, está
ainda a imagem de Pacdilma atropelando a legislação ambiental para obter
licenças de usinas (Monte Belo, Jirau, etc.).
Por trás de tudo, Zé Dirceu e Lulinha (o filho) manipulando tudo para
controlar grandes empresas. O que ressalta à vista é que Marina não pode perder a chance de liderar, de exercer seu carisma, de aconselhar um dos lados, pois ao líder não é permitido omitir-se em momento tão importante. Esse momento é único. Líder tem lado, não fica no muro. Por fim, o mesmo conselho que dei a alguns amigos do Partido Verde de Campo Grande, vale enormemente agora. Marina deveria exigir dois
Ministérios para o PV. O de Meio Ambiente, onde balançam as bandeiras tão caras para Marina Silva, pelas quais ela é mundialmente conhecida. O PSDB ganharia muito com essa concessão. O outro, o das Cidades, onde estão as bolsas-famílias. Aí o PV poderia desenvolver um grande trabalho social, ajudando o PSDB efetivamente.
Senhora Marina, é hora de decidir. Sua chance de entrar para
História.
João Campos é advogado especialista em Direito do Consumidor