Vivemos um tempo de revisão de conceitos. Não há mais como utilizar filtros ideológicos rígidos e ultrapassados para compreender com clareza o mundo contemporâneo.
Partidos políticos, instituições governamentais e não governamentais, empresas, universidades, órgãos de imprensa, enfim, em todos os espaços onde se produz modelos de pensamento, há um grande esforço de adaptação e atualização para concretizarmos o sonho de uma sociedade mais justa e igualitária.
Percebemos que os mais variados setores da nossa sociedade atuam com concepções diversas dos valores democráticos. Mas a diversidade é fundamental para se avançar e evoluir. Não há dúvida de que, em linhas gerais, diante deste processo muitas vezes penoso e conflitante, uma parcela de nossa sociedade ainda demonstre dificuldades para se colocar em sintonia com os novos tempos.
Por compreender isso com muita clareza considero um equívoco demonizar e estigmatizar os chamados movimentos sociais, como muitos fazem hoje, sem critérios, sem generosidade, de maneira discriminatória e muitas vezes preconceituosa. Não quero julgar os movimentos sociais sem antes compreendê-los. Não acho justo rotular estes segmentos sem observar suas especificidades, suas complexidades, seu histórico de lutas e conquistas.
Sobre qual “movimento social” estamos nos referindo? Estamos nos referindo àqueles que acreditam no enfrentamento, na violência, no isolamento como método de ação?. Ou àqueles que querem se inserir nos grandes movimentos contemporâneos de progresso humano e material ?.
Essa é a questão central que devemos compreender. Não acho lógico nem coerente criminalizar os movimentos sociais por preconceito ou desinformação. Eles foram e são extremamente importantes. Sem eles o Brasil viveria contradições sociais muito mais profundas e abrangentes do que as atuais. Sem os movimentos sociais não teríamos condições de se criar um sólido mercado consumidor, uma sociedade democratizada, com uma economia diversificada e abrangente. Não teríamos avançado e criado uma cultura diversificada, com níveis elevados de consciência e sensibilidade democráticas. Claro que ainda há déficits gerais, mas não podemos negar que estamos melhorando.
Por isso, temos que criar condições para que os setores produtivos e propositivos do movimento social avancem e contribuam de maneira mais decisiva para a construção de um Brasil que tenha pleno emprego, com educação e saúde de qualidade e renda elevada, um Brasil que defende a liberdade como valor essencial para conquistar o desenvolvimento.
Os conhecidos setores do “movimento social” que aposta nos conflitos certamente vão se esvaziar e ficarão restritos às concepções do atraso que ele mesmo produz e reproduz.
Neste aspecto, quero destacar aqui o papel do movimento social moderno e transformador. Aqueles segmentos dos movimentos sociais que conseguiram se libertar da lógica ultrapassada da rebeldia sem causa.
Por isso, sinto-me honrada de ser partícipe ativa de um programa de apoio à agricultura familiar de meu Estado, o Mato Grosso do Sul. Juntamente com o Deputado Federal Waldemir Moka, do PMDB, conseguimos viabilizar recursos através de emenda parlamentar e verba extra-orçamentárias do Ministério da Agricultura, formalizando um convênio entre governos Estadual e federal que resultará em investimentos da ordem de R$ 1, 95 milhão para atender 5 mil pequenos produtores rurais em 28 municípios do Estado.
Com estes recursos, vamos viabilizar a aquisição de insumos básicos como combustíveis, sementes e adubos para o plantio de arroz, feijão, milho, hortaliças etc., garantindo colocar uma área de 6 mil e 300 hectares nos esquemas de produção de alimentos.
Acho que viabilizar os movimentos sociais é trabalhar em conjunto com eles, contribuindo para fazê-los produzir para o bem da comunidade, deve ser a meta dos setores governamentais. Acredito em políticas positivas. Tenho absoluta certeza de que o processo de reforma agrária é complexo e deve ser feito com planejamento, apoio técnico, crédito e ação solidária.
Marisa Serrano é Senadora e vice-presidente da Executiva Nacional do PSDB
Opinião