Sempre que ligo a TV, ou acesso a internet, só pra citar uns dos meios de comunicação que mais acesso, ao acessá-la recebo, em média, cerca de 300 propagandas de boa e má qualidade, ofertando produtos dos mais diversificados, desde roupa de cama, eletro doméstico, automóveis, alimentos, bebidas, cigarros, apetrechos de pesca. Falar em indústria cultural é ligar uma característica específica proveniente do mundo capitalista, criado por Theodor W. Adorno em meados do século XX.
O presidente lula, nessa semana, relatou de forma crítica, que há “ausência de conteúdos educativos nos meios de comunicação. "Qual é a quantidade de minutos educativos nos meios de comunicação? “É muito pouco porque o interesse é evidentemente comercial”, relatou o presidente.
Ele tem toda razão. Com exceção da TV Cultura e alguns poucos programas vinculados por alguns órgãos de comunicação, não há, por parte desses, um compromisso sério em relação ao programa educacional no Brasil. Alguns até desconhecem que existam tais programas. Nessa semana li um artigo que negava tal existência, equívoco perdoado pelo fato do escrito não ser da área. Então qual seria a explicação, sendo que os órgãos de comunicação funcionam mediante concessão do governo federal? Consequentemente precisam atender algumas exigências para que continuem ativos e possam renovar sua concessão?
Podemos conceituar a Indústria Cultural em empresas que têm por objetivo oferecer, propagar, divulgar produtos nos canais competentes como TV, jornais, rádios, revistas e internet atendendo os ditames do capitalismo que é o lucro. Esse conceito – Indústria Cultural – serviria para definir a inversão da cultura em mercadoria. O conceito nada tem a ver com os veículos ou meios de comunicação que citei, mas ao uso dessas tecnologias pelo capital. A ideologia cultural passa a ser guiada pela necessidade de consumo e de lucro capitalista guiados pelo mercado.
Segundo informações dos sites oficiais do governo federal (Ministérios das Comunicações) existem atualmente no Brasil, em torno de mil estações de rádio e mais de 75 de televisão, representando 37 milhões de aparelhos receptores de rádio o que nos leva a refletir em torno de uma audiência de 60 a 90 milhões de brasileiros.
Na imprensa escrita são aproximadamente 290 jornais diários, e outros que estão sendo liberados essa semana pelo governo podendo alcançar cerca de 5 milhões de leitores.
Portanto, a Indústria Cultural no Brasil escamoteou os interesses e/ou as expectativas de um projeto hegemônico para a educação do país em nome dos interesses do capital, inclusive com a participação de alguns setores ligados à própria educação, seja privada ou até mesmo pública.
Nas escolas, as propagandas tomaram conta dos corredores com a conivência daqueles que deveriam preservar pelo processo estão – de maneira consciente ou inconsciente – contribuindo cada vez mais pela banalização de tal sistema. Os muros das escolas estão sendo loteados, alugados em nome de melhorias estruturais que deveriam ser de responsabilidade dos governos estaduais, federal e municipal, com as mais diversificadas propagandas comerciais.
Podemos refletir que no Brasil a Indústria Cultural implementa um projeto de divulgação dos interesses capitalistas banalizando os valores sociais e culturais que deveriam ser preservados, não se importando com os resultados que possam surgir desse modelo. Não há regras claras que definem tais liberdades, e quando são propostas pelo governo federal são barradas pelo bloco de defesa no Congresso Nacional.
Os programas denominados de Reality Show é um dos exemplos desse processo, fazendo a população crê que participa quando o que está por traz de todo aquele teatro é a venda dos produtos e marcas patrocinadoras.
Para Adorno, “o homem, nessa Indústria Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, objeto. O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho”. (ADORNO, Theodor W. Textos Escolhidos. Trad. Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1999).
Pedro Antonio Agostinho é professor de história na rede pública em Mato Grosso do Sul, cidade de Três Lagoas