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A luta do câmbio vai ser dura

E temos aí uma nova batalha cambial, agora não lá fora, mas no Brasil. A novidade é que, desta vez, o governo não esconde a decisão de conter a valorização do real para evitar maior dano na balança comercial e na conta externa. Vai agir. Antes, dizia que tudo seria resolvido pelas forças do mercado, que o equilíbrio voltaria logo com a manutenção do saudável câmbio flutuante. Ele é bom, sim, vai mantê-lo, mas não está ajudando muito porque nossos parceiros comerciais, Estados Unidos, China, administram a flutuação para baixo, não para cima.

Ben Bernanke diz que não defende um dólar fraco, adota medidas extremas que o enfraquecem. A China, afirma que não pode valorizar o yuan para não quebrar empresas locais. Desculpas para intervir.

Não deu certo. O governo parece convencido de que o aumento do IOF sozinho ajudou, mas não muito. O dólar continua abaixo de R$ 1,7. Vai usar de outros instrumentos de defesa. Acredita no câmbio flutuante, sim, vai mantê-lo ao mesmo tempo em que reage convencido de que é preciso mais. E mais não só agora, afirmam os analistas do mercado, um "mais" quase permanente, que deve durar enquanto forem mantidas as desvalorizações do dólar e do yuan e outras moedas.

As forças do mercado estão sendo enfraquecidas por intervenção direta de grandes participantes do mercado mundial, como Estados Unidos e China, nossos dois principais parceiros comerciais.

O governo decidiu agora seguir o mesmo caminho, como vem afirmando o ministro Guido Mantega. Não esconde mais que o objetivo é a defesa aberta do mercado interno, ameaçado de déficit do qual só escapou em 2010 pelo excelente resultado das exportações de commodities.

Festa de paradoxos. Aqui, o governo se defronta com uma espécie de festival de paradoxos, do crescimento da inflação e do real valorizado, que reduzem a capacidade de administrar o câmbio.

O primeiro, é o paradoxo vem do excepcional crescimento econômico. Ele vem atraindo investimentos em um mercado financeiro internacional ainda instável e com poucas oportunidades seguras e rentáveis como no Brasil. Este é um assunto velho para o leitor da coluna.

Além do afluxo de investimentos financeiros, há a aumento dos preços das commodities, que, admitem o governo e analistas, representam um fator decisivo na cotação do real. O preço sobe lá fora, entram mais dólares e o real se valoriza. O fato irônico e paradoxal é que esses preços são ditados em grande parte pela desvalorização do yuan, sempre atrelado ao dólar. A China, na verdade, dita os preços das commodities, absorvendo a alta com uma moeda fraca.

Triplo sofrimento. Nesse cenário, o Brasil sofre três vezes, ao mesmo tempo. Primeiro, quando o real se valoriza com a entrada de dólares via exportação de commodities. Segundo, quando o yuan, que segue o dólar, também se desvaloriza em relação ao real. E terceiro, quando essa desvalorização do yuan em relação ao real facilita e explica o aumento significativos das exportações chinesas para o Brasil. Isso é mais porque são compostas essencialmente de produtos industriais que estamos deixando de produzir.

É a armadilha do câmbio que o governo enfrenta no momento. Uma espécie de círculo vicioso real-yuan-dólar-real numa sucessão de causa e efeito que pretende quebrar.

E tem inflação, juros. Ah! se fosse "só"isso… Não é. Há a inflação de quase 6%, ameaçando romper a meta. Isso vai exigir uma nova elevação dos juros pelo Banco Central talvez nos próximos dias, o que irá atrair ainda mais investimentos que… bem vocês já sabem, mais dólares no mercado, mais valorização do real. Temos aí a armadilha da inflação e dos juros mais altos para contê-la.

Vai dar? Vai. O BC deve continuar comprando dólares, elevando as reservas cambiais para mais de US$ 300 bilhões. Só no ano passado, foram mais de US$ 40 bilhões. O ruim, é que aumenta o seu custo de financiamento e a divida interna no final da linha – títulos do Tesouro para não transformar os novos dólares em reais e inflação. O bom, é que o país fica protegido contra uma crise cambial ou turbulências externas.

Avaliando bem, a economia brasileira se enfrenta com desafios superáveis mesmo num cenário externo adverso que se prevê para este semestre.
 
Alberto Tamer é articulista do jornal O Estado de São Paulo