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A militância anti política

A militância anti política se espalhou por toda a sociedade. De alto a baixo o que se vê é o asco com a política e com os políticos. A política deixou de ser atividade social no espaço público e se transformou numa ferramenta para alpinistas sociais e ou manivela para uso de poderosos grupos econômicos financeiros interessados em subjugar o governo e a sociedade.

A política entrou em crise no mesmo momento em que permitiu que os interesses econômicos corporativos passassem a ditar a agenda política. Desde pelo menos os anos 1970, com o espraiamento neoliberal pelo mundo e a ideia de que a economia é a única agenda legítima para a política, que os políticos passaram a ser meros representantes baratos de mega interesses corporativos globais. A Economia sobrepujou a Política.

Ao mesmo tempo em que políticos descem a ladeira da moralidade os CEO´s das grandes empresas são erigidos como heróis, como os grandes líderes a nos guiar pela vida. Mesmo que sejam estes mesmos CEO´s parte da engrenagem que desmontou a importância da política. Nos sobra agora a realidade de que também eles os heróis modernos do Capitalismo Financeiro, agem contra a sociedade e em favor de uma plutocracia global.

Odiar a política é o mesmo que querer explodir o avião em pleno voo por que não gostamos do piloto. A política está em crise é verdade. Mas sua crise está no fato de que é limitada para enfrentar interesses muito maiores do que ela. Enquanto a política está amarrada ao local, ao espaço do país, as forças que lhe fazem oposição são forças globais sem amarras, que se deslocam pelo mundo sem controle. A política é nacional a economia financeira é global. Os atores da política precisam de votos, os pilotos do mercado global precisam apenas de um currículo.

Odiar a política é abrir mão da única ferramenta para lutar contra aquele cenário. Sem democracia só resta o mercado. E o mercado, ao contrário do que parece, não é democrático é plutocrático. No mercado ninguém tem outra escolha a não ser comprar. No mercado não se escolhe, compra-se. E quem não compra é um pária. O fim da política não é apenas o fim da democracia, é o inicio de uma ditadura de mercado. Não se deve estranhar a sanha com que veículos de mídia se lançam contra a política, é apenas uma evidência de que a democracia não é o ideal do mercado.

A única força com legitimidade social para ocupar o espaço ainda ocupado pela política e o mercado. Atacando a classe política destroem-se as bases da democracia. Sem democracia estaremos expostos as decisões dos senhores do mercado. E as decisões do mercado são aquelas que dão lucros e rendimentos, independente das consequências sociais e ambientais de tais rendimentos.

Estamos cercados de políticos estúpidos. Mas seremos dominados pela estupidez se aceitarmos que o mercado é o único capaz de pensar a sociedade e desenhar os caminhos futuros. Não é a política o nosso problema são os políticos.

Luciano Alvarenga
Sociólogo e professor – São José do Rio Preto (SP)