Imaginem a cena: as pesquisas eleitorais do segundo turno dão Serra na frente. O PT fica nervoso. Lula não se conforma. A tropa de choque da base aliada parte para a baixaria. Dossiês secretos começam a vir à tona. As redações – repletas de petistas de todos os matizes – começam a reverberar acusações e críticas por todos os lados.
Nesse meio tempo Marina Silva declara apoio ao tucano e o governador André Puccinelli não se faz de rogado: diz que é Serra desde criancinha e que agora acredita piamente ele vai vencer a parada. Analistas políticos “isentos” juram por todos os deuses que sempre consideraram a hipótese de vitória serrista. A imprensa internacional começa a desenhar o perfil do futuro governo do PSDB.
Pra completar o cenário, o noticiário político ocupa-se maciçamente da produtiva discussão sobre quem será quem no futuro governo Serra. Especulam-se à larga o nome de futuros ministros, diretores de estatal, bedéis de todos os escalões, num frenesi de distribuição antecipada de cargos como nunca se viu na história do País.
Assim, sem ninguém entender direito os motivos ocultos do PMDB, Renan Calheiros e Sarney concedem entrevista coletiva e anunciam que só negociam com Serra se lhe oferecerem de porteira fechada a diretoria que fura poço. A imprensa em peso leva o assunto a sério.
Enquanto isso, no Palácio do Planalto, no meio da noite, descobre-se que José Dirceu e companhia disputam ferozmente os despojos do Governo. Denúncias. Escândalo. Uma bagunça. Marco Aurélio Garcia viaja misteriosamente para Cuba. Erenice Guerra e familiares desaparecem de cena. E o velho Delúbio Soares anuncia que está encerrando suas atividades no tuíter. Para sempre.
A economia entra em parafuso: o dólar fica parecendo biruta de aeroporto. Henrique Meirelles anuncia uma alta estratosférica na taxa de juros para segurar a alta da inflação. As contas externas explodem. E o BNDES anuncia que não emprestará mais um centavo para Eike Batista. A bolsa fica nervosa. Os banqueiros deliram. E assim entra-se na famosa era da incerteza. Plínio de Arruda Sampaio vibra de alegria.
Enfim: cria-se a onda azul. Uma invenção de marqueteiros políticos, mas que rende assunto na mídia. E Dilma? Bem, essa fica reduzida a notas de rodapé. Poucos se lembram de sua existência. Ela continua sendo uma sombra. Uma figura decorativa, pronta para ser atirada na lata de lixo da história. Alguns ainda a consideram candidata à presidência. Mesmo assim ela ainda é a única que acredita em alguma coisa e grita no horário eleitoral gratuito: tudo isso é culpa de FHC !
Fecha o pano.
Dante filho é jornalista e escreve para o Midiamaxnews