Em poucas etapas de sua história o Brasil esteve como um barco tão à deriva como agora em relação ao seu destino político. Norte, Sul, Leste nem Oeste parecem ser o rumo do país, às vésperas de um período eleitoral importante que mexe diretamente com a vida dos cidadãos, em que se define quem vai governar as cidades – o único “ser vivo” na estrutura física do país. Na comparação com um barco à deriva, não há timoneiro, motores nem velas ao vento.
As indefinições de características políticas de quem irá governar os municípios não são incomuns. Ocorrem geralmente em todas as eleições. Porém, neste país de Lava Jato, Petrolão e Mensalão, entre outros escândalos que envolvem partidos, filiados e seus líderes, ocorre uma desafinação acentuada pouco vista em outras épocas.
Partidos que caminharam alinhados em eleições e em debates até um passado bastante recente, hoje estão em posições opostas. E negociações sofrem mudanças tão repentinas que inviabiliza projeções ou previsões.
A situação do PMDB de Três Lagoas, neste ano, é um bom exemplo da deriva. O partido já navegou para ancorar em diversos portos, mas ainda está longe de encontrar um lugar seguro. Não foi assim nas últimas quatro eleições municipais, em que peemedebistas apontaram o rumo às outras embarcações. Saíram do PMDB o direcionamento de campanhas e o discurso dos candidatos. Foi assim que o partido dominou a política local por quase duas décadas.
No PSDB, que atuou como coadjuvante de outras siglas e que nunca obteve sucesso absoluto em termos locais, as indefinições são pouco menores. Mas, quem promove este avanço não são lideranças genuinamente locais. A atuação do governo estadual é evidente porque é grande seu interesse em conquistar o maior número possível de prefeituras, principalmente de cidades importantes, como Três Lagoas, Dourados e Campo Grande, entre outras.
Na outra ponta, nesta eleição não há o protagonismo do PT. O partido possui a maior cota de tempo na propaganda obrigatória, as maiores bancadas no Congresso e na maioria das assembleias legislativas, além de governar cidades e Estados importantes. Em nível municipal, não possui nomes suficientemente fortes para vencer a eleição em nenhuma cidade da Costa Leste. Nem mesmo é bem-vindo em coligações.
À exceção de Três Lagoas, na maioria das outras cidades, este protagonismo deve ficar nas mãos de menor expressão em eleições recentes, e também dos chamados nanicos, que possuem pouco tempo no rádio e na tevê porque têm bancadas menores no Congresso. São eles quem distribuem boa parte das cartas no jogo político deste ano em Três Lagoas. O comando da Rosa dos Ventos pode ficar nas mãos deles também.
A maior chance deste protagonismo ocorrer, entre outras possibilidades, está no descontentamento do eleitor com as lideranças e partidos mais expressivos – que têm nomes envolvidos nos escândalos já citados. É inevitável ao cidadão desligar uma coisa da outra. Um partido que tenha graduados mensaleiros, por exemplo, sofrerá o dano em escala menor, nos municípios. O eleitor sabe, hoje, divisar as ligações políticas pelos escândalos em que se envolvem governantes, e isto pesa mais que antigamente na hora de definir em quem votar.