(*) Fernando Canzian
A melhor imagem para se descrever a economia de um país, especialmente uma das grandes como os EUA, é a de um navio transatlântico. Mesmo que decisões e ações sejam tomadas imediatamente, o bicho vai demorar um bom tempo para ser recolocado no rumo desejado.
No caso da atual crise, os motores desse transatlântico não apenas pararam, como deu-se um imenso rasgo em seu casco. Muita água entrou na sala de máquinas. E os reparos estão sendo feitos num clima de afogamento. Se países afundassem, estaríamos diante de um Titanic.
O Departamento do Comércio dos EUA acaba de informar, porém, que o principal motor da gigantesca embarcação norte-americana começa a emitir sinais de vida. O consumo das famílias no país, que responde por 70% do PIB, cresceu 2,2% no primeiro trimestre de 2009.
Se a recuperação do consumo se sustentar, essa é, individualmente, a melhor notícia desta crise.
O PIB dos EUA despencou 6,1% entre janeiro e março, e já havia caído outros 6,3% entre outubro e dezembro de 2008. A intensidade da desaceleração nesses seis meses foi a maior em 51 anos.
Mas se os dois números parecem iguais, seus componentes são completamente diferentes.
No último trimestre de 2008, tudo despencou nos EUA (consumo, investimentos, estoques). Só os gastos do governo é que ficaram no azul, subindo 7%. Ou seja, o Estado impediu que o PIB não recuasse além do tombo de 6,3%.
Já no primeiro trimestre de 2009, quase todos os componentes do PIB novamente mostraram contração. Desta vez, até os gastos do governo recuaram (-4%). Houve ainda um colapso nos investimentos do setor privado, que caíram à metade ante igual período em 2008 (subtraindo 8,8 pontos percentuais do PIB).
A diferença agora é que o consumo das famílias cresceu. Mesmo os magros 2,2% de aumento foram suficientes para que a economia não desabasse mais. Isso ocorre porque, como já dito, 70% do PIB nos EUA são gerados pelo consumo. Essa é a primeira boa e grande notícia.
Fernando Canzian é repórter de matérias especiais e colunista