Veículos de Comunicação

Opinião

A problemática do crack na sociedade brasileira

Não há registros precisos acerca de quando o crack passa a circular no Brasil

Cilene Queiroz, escritora, bióloga, MSc em Sistema de Produção em Agronomia *

 

O último levantamento feito pelo Governo Federal, sobre o crack, no Brasil, mostrou que 370 mil pessoas usam a droga regularmente. Na década de 80, iniciou a venda dessa droga em São Paulo, na periferia da zona leste, já hoje, seu comércio está completamente disseminado no Brasil inteiro. De acordo com, os dados, a problemática do crack tomou uma proporção inimaginável. Tentarei explicar.

Não há registros precisos acerca de quando o crack passa a circular no Brasil. As informações sobre a chegada vêm da imprensa leiga ou de órgãos policiais. A primeira apreensão da substância no município de São Paulo, registrada nos arquivos da Divisão de Investigação sobre Entorpecentes (Dise), aconteceu em 1990. Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em bairros da Zona Leste da cidade, para, depois, alcançar a região da Estação da Luz (que ficou conhecida como Cracolândia), no Centro da cidade. Atualmente, o crack está amplamente disponível em lugares públicos. Há viciados em todas as faixas socioeconômicas e culturais e a droga vem ganhando adeptos na classe média.

Os dados revelam que o poder destrutivo do crack é superior ao da maioria das drogas ilícitas, devido ao fácil acesso, à alta letalidade (aumenta o risco de morte em oito vezes em relação à população em geral) e à precocidade do primeiro uso.

A duração da intoxicação, de dez minutos, considerada baixa, leva à busca imediata por mais crack. Apesar desse curto tempo, consta que o crack produz efeitos até seis vezes mais potentes que os da cocaína. Devido ao seu poder altamente viciante, tem um mercado cativo, estimulado pelo custo menor. Ele levou ao surgimento de pequenos produtores e traficantes, que se confundem com usuários nas cracolândias.

O aumento do consumo dessa droga no Brasil, pode ser observado pela frequência com que se encontram pessoas consumindo-a nas ruas. A imprensa, a cada dia, apresenta histórias de famílias que vivem o drama de ter alguém viciado em crack. Agressões entre pais e filhos, roubos e prostituição para financiar o vício, entre outros episódios de violência, são relatos comuns onde há dependentes de crack. Ao mesmo tempo, a impotência dos usuários e da família diante da droga também impressiona quem se debruça sobre o assunto.

A demanda e a oferta de psicotrópicos vêm se alterando conforme aumenta a repressão às substâncias. Nesse mercado em constante adaptação, a falta de uma droga abre espaço para outras, distribuídas e consumidas de formas diferentes. Diante das dificuldades, usuários e traficantes buscam inovações para contornar as limitações impostas. Assim, são descobertas outras drogas, geralmente com efeitos mais intensos e danos maiores. A “indústria da droga” passou a oferecer derivados baratos e altamente rentáveis da cocaína, como o crack, a merla e o óxi. Além disso a maior intensidade e a menor duração dos efeitos dos derivados, que são fumados ou inalados, aumentam a demanda por doses, gerando maiores lucros.

Os números do último levantamento são alarmantes, e por este motivo quis repetir o que a literatura já informou. Infelizmente, já sabemos que, após a propagação do crack, virão outras formas de vício, e a sociedade estará pronta para o extermínio.