O título deste editorial também poderia ser enriquecido com um ponto de interrogação, no acréscimo de “a quem interessa” o impeachment da presidente Dilma Rousseff. É ao país que interessa tirar a presidente do cargo ou a um grupo de políticos que não concorda mais com o jeito dela governar e da soberania construída pelo PT desde a ascensão de Luís Inácio Lula da Silva ao poder?
A debandada peemedebista, ocorrida no início da semana não é o principal e nem um ato a mais neste teatro político. É o retorno de uma antiga prática emedebista, de “fechar questão”, embora parte dos peemedebistas não esteja tão certa assim de que a melhor alternativa era mesmo deixar o barco. Ministros e assessores diretos do governo, filiados ao partido, ainda não definiram a saída.
O obstáculo para a retirada total dos peemedebistas, contudo, não pode ser descrito apenas pela proximidade de assessores do primeiro escalão e Dilma, a Lula e à cúpula petista. Pelo país, não faltam alianças entre pemedebistas e políticos filiados ao PT sendo lustradas para as eleições municipais, porque, ainda que possa ser ruim, se unir para ganhar as eleições ainda é o principal foco de políticos.
Foi assim quando Lula era a “bola da vez”, no vácuo tucano de Fernando Henrique Cardoso. Peemedebistas que quatro costados não hesitaram em subir na canoa de Lula, sabendo que logo se transformaria em iate – agora, em pedalinho – assim que vencesse a primeira eleição. E não foi de olho apenas em Brasília ou em ministérios. Os governos estaduais e prefeituras pesaram bastante na união dos partidos.
Desfazer estas alianças, agora, pode ser dar um tiro no pé, porque a saída de Dilma é incerta, o tempo que isto pode levar é incerto e nada pode romper com prazos de negociação em níveis locais, mais próximos daqueles que, agora, devem correr atrás de votos.
Na Costa Leste de Mato Grosso do Sul, por exemplo, políticos de partidos próximos ao PT nem sonham em deixar as negociações, nem mesmo diante do risco de ver Dilma descer a rampa do Planalto, como Fernando Collor de Melo, no início da década de 1990.
Esta “definição” de esperar por uma definição é comum em política e não terá nenhum ingrediente diferente dos conhecidos, exceto aos propalados por tucanos e democratas,que rejeitam 100% relações com petistas. Nada poderá aproximá-los. Nem mesmo possíveis coligações municipais.
Para o PMDB, o cenário não deverá ficar mais prejudicado. O partido ainda deve desfrutar bastante da permanência de Michel Temer – com Dilma ou não -no comando do país.
É evidente que o foco, agora, seja fixo nele. Mas, também não é tudo. Temer, assim como outros peemedebistas ajuizados sabem que assumir este governo, do jeito que está, não será entre rosas. O brilho da legenda pode ser até maior que qualquer promessa de consertar os estragos.
Quanto a Dilma, o acúmulo de derrotas em suas atitudes como governante não deixam dúvidas. Não foi bem-sucedida na montagem da equipe, não conduziu como poderia a política econômica, lançou mão de desgastados programas públicos e deu a manutenção necessária ao seu relacionamento direto com o Congresso. Pior ainda. Não cuidou da prometida qualidade de vida à classe média e à recuperação social das classes menos favorecidas – aquelas que votaram em peso, duas vezes, com crença nas promessas de Lula e Dilma, embaladas por um forte esquema de marketing.
As explosões do mensalão e do petrolão, no colo de Dilma, foram mais potentes que a bomba do Rio-Centro, em 1981, no Rio, no colete de militares extremistas. Não houve, até agora, como a presidente segurar a onda e não ser afogada entre suspeitas de que sabia dos prejuízos da refinaria de Pasadena (Texas), das propinas em contratos da Petrobras, a derrocada dos empregos e a elevação das taxas de juros. No meio do caminho até aqui, acreditou no canto da Sereia e assustou o país com o desejo de relançar o imposto do cheque.
Em meio a esses terremotos, seu governo ruiria antes não fosse o braço forte do PMDB ao seu lado e da persistência de aliados a Lula – o mesmo que ela tenta nomear ministro, como se o Poder Judiciário e a oposição não fossem reagir aos interesses que isso congrega.
Ao país, o interesse em mudar o ocupante do Palácio do Planalto deve ser mais amplo que simplesmente trocar Dilma por Temer. As eleições municipais ganham importância e peso extras, neste contexto. Resta, contudo, a quem interessa não haver mais relação entre PT e PMDB.