O Hospital Regional Rosa Pedrossian, uma das maiores instituições públicas em saúde de Mato Grosso do Sul, virou alvo depois que o governo estadual mandou reduzir leitos e suspender cirurgias eletivas. O leitor poderá se informar pelas manchetes de qualquer bom jornal que o corte de gastos atingiu exatamente o setor que mais deixa o povo estremecido.
Quem paga impostos em dia deve estar se perguntando que razões tão fortes haveriam de exigir tamanha austeridade na gestão do hospital público. A versão oficial é que foi preciso fazer ajustes em nome da Lei de Responsabilidade Fiscal. A diretoria tenta desdizer os fatos por meio de outros subterfúgios, como atribuir os problemas atuais do hospital à “readequação” do setor de recursos humanos.
Ora, então querem fazer crer ao cidadão que tudo não passou de um mal-entendido, intriga da oposição? Que os fins justificam os meios? Que as dificuldades do Hospital Regional surgiram de uma hora para outra, mas em breve as coisas voltarão a ser um mar de rosas?
A Santa Casa de Campo Grande é outro nó a ser desatado. Está sob intervenção de uma junta formada pelo poder público há cinco anos e enfrenta problemas sérios. Alguns recorrentes, como greves e paralisações dos trabalhadores. Outros, de solução penosa, como a dívida de R$ 57 milhões deixada de herança pelos administradores de outrora. O governador do Estado chegou a pensar que poderia deixar a junta interventora, mas foi prontamente demovido da idéia pelo prefeito da cidade.
As dificuldades na rede de saúde não estão restritas aos grandes hospitais. O Sindicato dos Médicos apontou a ocorrência de 345 relatos de agressões contra profissionais nos postos de Campo Grande, desde o início do ano até 23 de setembro. Ao clamar por providências, os sindicalistas querem solução para algo que – segundo a classe – se arrasta por longos anos.
Quando o assunto é a saúde pública e suas deficiências, o que mais se ouve na rua são frases do tipo: “nosso prefeito e nosso governador são médicos, mas o povo ainda sofre na fila do hospital”. Parece leviandade abordar dessa maneira, mas é uma frase que resume o contraditório – pelo menos sob o ponto de vista moral. Espera-se que os doutores conduzam o setor da saúde com a mesma habilidade que tiveram para alcançar a respeitabilidade, tanto na área profissional como na esfera política. Afinal, é de se supor que ninguém teria mais conhecimento dessa causa do que os próprios médicos.
Fazer críticas ao trato da coisa pública e seus gestores é, ao mesmo tempo, um dever e um exercício cívico. Mas não se pode jogar na vala comum o trabalho de milhares de profissionais em nosso Estado. Pessoalmente recorri à rede pública duas vezes, pois não conto com plano particular. Em ambas as ocasiões – uma no posto de saúde do bairro Tiradentes e outra no Hospital Regional – recebi atendimento prestativo e eficiente. Saí satisfeito, embora ciente de que nem todos conseguem resolver suas pendências.
A coisa fica “russa” (assim, no popular mesmo) quando aqueles que mais precisam, não vêem solução para si ou seus familiares. Seu Abílio, que faz tratamento contra o diabetes, reclama que falta um tipo de remédio nos postos do Nova Bahia e do Universitário. Dona Maria Esmeralda chora a morte da filha de 9 anos, vítima de meningite, e atribui o quadro à demora no diagnóstico. E a dona Marize, que esperou horas para ser atendida no posto de saúde do Guanandi, se envolveu em uma confusão com um guarda municipal e uma equipe de TV. Note-se: todos estes episódios ocorreram no intervalo de poucos dias.
Os tecnocratas e seus apaniguados talvez queiram refutar, linha a linha, tudo o que foi exposto aqui. Escondidos sob seus relatórios ininteligíveis e planilhas quilométricas, irão provar por A mais B que têm razão (e por estarem no centro do poder, eles sempre terão razão). Abstenho-me das delongadas lições que possam advir. Apenas peço gentilmente que se expliquem ao seu Abílio, à dona Maria Esmeralda, à dona Marize…
O Hospital Regional Rosa Pedrossian, uma das maiores instituições públicas em saúde de Mato Grosso do Sul, virou alvo depois que o governo estadual mandou reduzir leitos e suspender cirurgias eletivas. O leitor poderá se informar pelas manchetes de qualquer bom jornal que o corte de gastos atingiu exatamente o setor que mais deixa o povo estremecido.
Quem paga impostos em dia deve estar se perguntando que razões tão fortes haveriam de exigir tamanha austeridade na gestão do hospital público. A versão oficial é que foi preciso fazer ajustes em nome da Lei de Responsabilidade Fiscal. A diretoria tenta desdizer os fatos por meio de outros subterfúgios, como atribuir os problemas atuais do hospital à “readequação” do setor de recursos humanos.
Ora, então querem fazer crer ao cidadão que tudo não passou de um mal-entendido, intriga da oposição? Que os fins justificam os meios? Que as dificuldades do Hospital Regional surgiram de uma hora para outra, mas em breve as coisas voltarão a ser um mar de rosas?
A Santa Casa de Campo Grande é outro nó a ser desatado. Está sob intervenção de uma junta formada pelo poder público há cinco anos e enfrenta problemas sérios. Alguns recorrentes, como greves e paralisações dos trabalhadores. Outros, de solução penosa, como a dívida de R$ 57 milhões deixada de herança pelos administradores de outrora. O governador do Estado chegou a pensar que poderia deixar a junta interventora, mas foi prontamente demovido da idéia pelo prefeito da cidade.
As dificuldades na rede de saúde não estão restritas aos grandes hospitais. O Sindicato dos Médicos apontou a ocorrência de 345 relatos de agressões contra profissionais nos postos de Campo Grande, desde o início do ano até 23 de setembro. Ao clamar por providências, os sindicalistas querem solução para algo que – segundo a classe – se arrasta por longos anos.
Quando o assunto é a saúde pública e suas deficiências, o que mais se ouve na rua são frases do tipo: “nosso prefeito e nosso governador são médicos, mas o povo ainda sofre na fila do hospital”. Parece leviandade abordar dessa maneira, mas é uma frase que resume o contraditório – pelo menos sob o ponto de vista moral. Espera-se que os doutores conduzam o setor da saúde com a mesma habilidade que tiveram para alcançar a respeitabilidade, tanto na área profissional como na esfera política. Afinal, é de se supor que ninguém teria mais conhecimento dessa causa do que os próprios médicos.
Fazer críticas ao trato da coisa pública e seus gestores é, ao mesmo tempo, um dever e um exercício cívico. Mas não se pode jogar na vala comum o trabalho de milhares de profissionais em nosso Estado. Pessoalmente recorri à rede pública duas vezes, pois não conto com plano particular. Em ambas as ocasiões – uma no posto de saúde do bairro Tiradentes e outra no Hospital Regional – recebi atendimento prestativo e eficiente. Saí satisfeito, embora ciente de que nem todos conseguem resolver suas pendências.
A coisa fica “russa” (assim, no popular mesmo) quando aqueles que mais precisam, não vêem solução para si ou seus familiares. Seu Abílio, que faz tratamento contra o diabetes, reclama que falta um tipo de remédio nos postos do Nova Bahia e do Universitário. Dona Maria Esmeralda chora a morte da filha de 9 anos, vítima de meningite, e atribui o quadro à demora no diagnóstico. E a dona Marize, que esperou horas para ser atendida no posto de saúde do Guanandi, se envolveu em uma confusão com um guarda municipal e uma equipe de TV. Note-se: todos estes episódios ocorreram no intervalo de poucos dias.
Os tecnocratas e seus apaniguados talvez queiram refutar, linha a linha, tudo o que foi exposto aqui. Escondidos sob seus relatórios ininteligíveis e planilhas quilométricas, irão provar por A mais B que têm razão (e por estarem no centro do poder, eles sempre terão razão). Abstenho-me das delongadas lições que possam advir. Apenas peço gentilmente que se expliquem ao seu Abílio, à dona Maria Esmeralda, à dona Marize…
Hélder Rafael é jornalista
O Hospital Regional Rosa Pedrossian, uma das maiores instituições públicas em saúde de Mato Grosso do Sul, virou alvo depois que o governo estadual mandou reduzir leitos e suspender cirurgias eletivas. O leitor poderá se informar pelas manchetes de qualquer bom jornal que o corte de gastos atingiu exatamente o setor que mais deixa o povo estremecido.
Quem paga impostos em dia deve estar se perguntando que razões tão fortes haveriam de exigir tamanha austeridade na gestão do hospital público. A versão oficial é que foi preciso fazer ajustes em nome da Lei de Responsabilidade Fiscal. A diretoria tenta desdizer os fatos por meio de outros subterfúgios, como atribuir os problemas atuais do hospital à “readequação” do setor de recursos humanos.
Ora, então querem fazer crer ao cidadão que tudo não passou de um mal-entendido, intriga da oposição? Que os fins justificam os meios? Que as dificuldades do Hospital Regional surgiram de uma hora para outra, mas em breve as coisas voltarão a ser um mar de rosas?
A Santa Casa de Campo Grande é outro nó a ser desatado. Está sob intervenção de uma junta formada pelo poder público há cinco anos e enfrenta problemas sérios. Alguns recorrentes, como greves e paralisações dos trabalhadores. Outros, de solução penosa, como a dívida de R$ 57 milhões deixada de herança pelos administradores de outrora. O governador do Estado chegou a pensar que poderia deixar a junta interventora, mas foi prontamente demovido da idéia pelo prefeito da cidade.
As dificuldades na rede de saúde não estão restritas aos grandes hospitais. O Sindicato dos Médicos apontou a ocorrência de 345 relatos de agressões contra profissionais nos postos de Campo Grande, desde o início do ano até 23 de setembro. Ao clamar por providências, os sindicalistas querem solução para algo que – segundo a classe – se arrasta por longos anos.
Quando o assunto é a saúde pública e suas deficiências, o que mais se ouve na rua são frases do tipo: “nosso prefeito e nosso governador são médicos, mas o povo ainda sofre na fila do hospital”. Parece leviandade abordar dessa maneira, mas é uma frase que resume o contraditório – pelo menos sob o ponto de vista moral. Espera-se que os doutores conduzam o setor da saúde com a mesma habilidade que tiveram para alcançar a respeitabilidade, tanto na área profissional como na esfera política. Afinal, é de se supor que ninguém teria mais conhecimento dessa causa do que os próprios médicos.
Fazer críticas ao trato da coisa pública e seus gestores é, ao mesmo tempo, um dever e um exercício cívico. Mas não se pode jogar na vala comum o trabalho de milhares de profissionais em nosso Estado. Pessoalmente recorri à rede pública duas vezes, pois não conto com plano particular. Em ambas as ocasiões – uma no posto de saúde do bairro Tiradentes e outra no Hospital Regional – recebi atendimento prestativo e eficiente. Saí satisfeito, embora ciente de que nem todos conseguem resolver suas pendências.
A coisa fica “russa” (assim, no popular mesmo) quando aqueles que mais precisam, não vêem solução para si ou seus familiares. Seu Abílio, que faz tratamento contra o diabetes, reclama que falta um tipo de remédio nos postos do Nova Bahia e do Universitário. Dona Maria Esmeralda chora a morte da filha de 9 anos, vítima de meningite, e atribui o quadro à demora no diagnóstico. E a dona Marize, que esperou horas para ser atendida no posto de saúde do Guanandi, se envolveu em uma confusão com um guarda municipal e uma equipe de TV. Note-se: todos estes episódios ocorreram no intervalo de poucos dias.
Os tecnocratas e seus apaniguados talvez queiram refutar, linha a linha, tudo o que foi exposto aqui. Escondidos sob seus relatórios ininteligíveis e planilhas quilométricas, irão provar por A mais B que têm razão (e por estarem no centro do poder, eles sempre terão razão). Abstenho-me das delongadas lições que possam advir. Apenas peço gentilmente que se expliquem ao seu Abílio, à dona Maria Esmeralda, à dona Marize…
Hélder Rafael é jornalista