Veículos de Comunicação

Opinião

A segurança eletrônica na prevenção de perdas

Um desafio para varejistas de todos os portes é lidar com a questão das perdas. Para isso, é imprescindível que o setor faça da segurança preventiva uma grande aliada no combate a esta dor de cabeça, que traz prejuízos aos negócios.

 Cada segmento tem um nível de perda como referência. Nos supermercados, por exemplo, o melhor índice é de cerca de 2,2% do faturamento. Acha pouco? É como perder um carro popular zero km a cada R$ 1 milhão faturado. Na prática, tomando como exemplo o faturamento do Grupo Pão de Açúcar em 2010 – R$ 36 bilhões – a perda correspondente seria de R$ 792 milhões, ou seja, mais de R$ 2 milhões por dia. Um empresário que fatura, em seu negócio, R$ 200 mil por ano, estará perdendo R$ 4,4 mil, isso se o seu índice de perdas for de excelentes 2,2%.

Segundo especialistas do setor supermercadista, a cada R$ 100 em vendas, R$ 38 vão para pagar impostos, R$ 27 para custear fornecedores, R$ 14 para pagar salários, R$ 17 para custos operacionais e R$ 2 para os revezes, sobrando R$ 2 de lucro líquido. Sendo assim, se as perdas forem reduzidas para 1% do faturamento, o lucro líquido será majorado em 50%, o que dimensiona bem a importância em preveni-las.

 Mas, onde se perde? De modo geral, em quatro frentes: 25% em operações logísticas (transporte, armazenagem, manuseio), 25% em furtos do público interno, 25% em furtos do público externo e 25% em operações ou fraudes contábil-financeiras. A boa notícia é que os sistemas de segurança, como alarmes, câmeras e controle de acesso podem combater problemas em todas essas frentes, principalmente na ocorrência de furtos, melhorando a segurança preventiva, e nas perdas logísticas, visto que as imagens das câmeras ajudam a identificar processos incorretos e reorientá-los, otimizando a administração geral.

 Muitos empresários cogitam elevar os lucros majorando o preço de venda, sob grande risco de perder clientes; outra forma de ganhar mais é criar serviços especiais, de maior valor agregado que, na maioria das vezes é rapidamente copiado (e melhorado) pela concorrência, ficando a conta da inovação para o pioneiro pagar. É claro que o motor da inovação não pode ser desligado, mas que tal aumentar os lucros investindo também em redução de perdas? A economia vai direto para os cofres da empresa e, por se tratar basicamente de operações internas, a concorrência terá mais dificuldade e levará mais tempo para descobrir.

 Segundo o Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA) da USP, 60% das perdas das empresas não são identificadas e, sem conhecê-las, não há possibilidade de serem combatidas. Por isso, a adoção de práticas preventivas deve se fundamentar no estudo dos riscos, vulnerabilidades e dimensões, estabelecimento de níveis aceitáveis, envolvimento dos funcionários e melhorias nos processos. Nesse contexto, são de grande contribuição os investimentos em tecnologia de vídeo-vigilância para monitoramento de ambientes, processos e logística de produção, controle de acessos e percursos.

 Imersas num mercado cada vez mais competitivo, com a concorrência sempre à espreita e clientes certamente mais exigentes por preços menores, as empresas estão mais atentas à redução de suas perdas – quesito tratado com relevância nos grandes empreendimentos pelo impacto direto e positivo na lucratividade. O caso é que empresas de todos os portes podem ser beneficiadas, mas, para isso, é preciso quebrar o paradigma de que só as grandes podem investir na prevenção.

Acompanhe esses exemplos. Com as imagens de quatro câmeras simples, o dono de uma pequena sorveteria pôde provar as perdas provocadas por um casal que, após saborear metade das casquinhas, sempre colocava alguns fios do próprio cabelo na massa e voltava ao balcão para reclamar, ganhando uma bola nova e um pedido de desculpas. Em outro caso, um fabricante de calçados, acreditando que funcionários estavam furtando couro, mandou instalar câmeras, vindo a descobrir que as perdas, salvos algumas canetas e grampeadores, eram provocadas pela forma como as peças eram colocadas nas máquinas de corte. A partir daí, investiu em treinamento da equipe de produção e reforçou a supervisão de processos. As desconfianças sobre as pessoas cessaram, o clima melhorou  e a produtividade também.

 Como começar? Identificando a diferença do estoque contábil para o estoque real, que é, efetivamente, a definição de perdas. Em seguida, definindo uma meta de redução de perdas a ser atingida em determinado período, montando a equipe que trabalhará nesta missão, estabelecendo os critérios de medição e a escolha as ferramentas de trabalho – é aqui que entram os equipamentos de segurança preventiva – e, finalmente, levantando os custos financeiros de toda essa operação. Se os números, com uma determinada margem de segurança, projetarem ganhos financeiros ao se atingir a meta, mãos à obra, senão, é preciso revisar a meta, o prazo ou outras variáveis até encontrar um número possível de se alcançar. Caro, mesmo, é perder.

* Erasmo Prioste é graduado em engenharia, especialista em segurança de patrimônio e diretor comercial do Grupo Segurança/ Security Vigilância Patrimonial