Por mais que se queira ou se tente, é impossível distanciar-se do quanto ocorre na Faixa de Gaza, mesmo aquele cidadão desprovido de quaisquer informações de política externa ou direito internacional ou ainda diante das notícias adredemente filtradas pelo poder financeiro e, após, jorradas pela imprensa nacional, quer televisiva ou impressa.
Confesso que sou daqueles despossuídos de conhecimento aprofundado para discorrer sobre uma visão científica ou metodológica das atrocidades que lá ocorrem, mas ouso pontuar algumas questões que, acredito, prescindem de ótica especializada, tão-somente humanamente condoída.
De fato, para se compreender ou mesmo abstrair o que tudo lá acontece, é necessário abrir mão de conceitos próprios de uma sociedade ocidental, isto é, do nosso modo de viver ou mesmo encarar a vida. Se persistir com eles, esqueça leitor(a), jamais conseguirá entender, pois, nem de longe, terá êxito.
Ainda que na precariedade de meus parcos – mas não opacos – conhecimentos, conclui que o espetáculo de terror que presenciamos é resultado, de um lado, do exercício tresloucado e deturpado daquilo que lá se entende por ‘fé’ e, de outro, da manutenção, a peso de vidas e de ouro, de um Estado que é a ‘longa mano’ norte americana no Oriente Médio.
Não me proponho e nem tenho competência para sentenciar, menos ainda travestido de despretensioso julgador da natureza humana, que esse ou aquele lado da ‘Faixa’ (ou melhor, tira, pela pequenez moral que representa) é quem possui ainda que um fio de razão, se é que ela existe nesse lodaçal de corpos destroçados pelas bombas de fósforo, em sua grande parte infanto-juvenis.
De qualquer modo e deixando de lado análises técnicas, saltam-me aos olhos que, em nome de uma ‘fé’ (ou de sua suposição) e de ‘interesses’ políticos e economicamente nada ortodoxos, exercitam a passos largos a brutalidade contra vidas humanas, especialmente crianças que, ao contrário de correrem como que em brincadeira, saem, quando conseguem e aos pedaços, em desenfreada fuga – à procura de abrigos – dos nefastos efeitos das armas químicas vomitadas como que um em caldeirão efervescente de sangue.
Observo claro, nas entrelinhas de ambos os lados, que a solução refoge à racionalidade ou à lógica humana, até mesmo política, e isso na medida que hoje chegou-me às mãos matéria jornalística na qual, de um lado da ‘Faixa’, um soldado israelense pontua que ‘the end’ do conflito só depende da vontade política do Estado de Israel e da Autoridade Palestina, sem qualquer intervenção externa (como se isso fosse verdade ou mesmo possível !?!?!), e, de outro lado da ‘Faixa’, um palestino vaticina que o ‘fim’ só depende, e tão-só, da vontade providencial e intervencionista de Deus.
Entre um fim e outro, vai um colossal e etéreo abismo, cujos corpos já deitados e os que por mais que ainda deitem num futuro breve, logo ali, no amanhã ou depois de amanhã, não conseguirão fechá-lo, mesmo que por obra cinematográfica hollywoodiana.
Resta-nos lembrar, quando em solitária oração, que se Deus fez-nos à sua imagem e semelhança, e tenho certeza que assim nos fez, é para que nos ‘amemos’ e não nos ‘armemos’ – muito menos o espírito, oxalá os corpos !
Julio Cesar Cestari Mancini é Advogado Conselheiro Estadual OAB/MS