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Opinião

A terceira guerra

O 5º Fórum da Água em Istambul, Turquia, confirma o que cientistas vêm dizendo e eu procuro, sempre que posso, dar sequencia e divulgar: a terceira guerra mundial será posse da água.

O Fórum Internacional da Água, sediado em Paris, também já havia chegado a essa conclusão, baseada em estudos que mostram uma realidade cruel: em todos os países o consumo de água supera a capacidade de recuperação dos mananciais.

Aliás, a França tem autoridade moral para sediar esse Fórum. Há mais de 40 anos os moradores de prédios franceses são estimulados, ensinados, motivados e, surpresa!, fazem exatamente isso: simplesmente racionam a água até da descarga sanitária! Testemunhei isso em 89, já era assim e continua.

Prosseguindo, no sábado, subia para minha casa cruzando as ruas tranqüilas de meu bairro e anotando quatro ou cinco casos de verdadeiro abuso no consumo de água. Três carros eram lavados com água abundante e potável, com potentes mangueiras jorrando à vontade para dar brilho às luxuosas camionetes.

De uma das casas, aparentemente sem morador, saía água em grande quantidade, escorrendo pela rua, um abuso que durou todo o final de semana.

Em Seul, Coréia do Sul, onde estive há um ano, os postos lavam carros com água reciclada, pois água potável por lá é tratada como uma espécie de dom divino. Como se sabe, a Coréia do Sul tem apenas 12% de área cultivável, quase não tem árvores, é extremamente montanhosa e a escassez de água e alimentos ainda é uma lembrança horrorosa dos tempos de guerra.

O rio Han, que corta a capital sul-coreana e é alimentado por vários canais, foi tratado com bio-remediação (aplicação de bactérias para degradação de material orgânico) e (vi fotos) as crianças podem brincar com os peixes nos canais.

Só quem passou necessidade de água preserva esse recurso. Hoje, instintivamente, fecho a torneira enquanto escovo os dentes. Acho que é sinal dos tempos.

Quando falo em guerra, não estou brincando de forma alguma. O Iraque está em devastadora guerra porque a ONU votou uma sanção contra a suposta presença de armas químicas nos arsenais de Sadam Hussein. Bastou essa suspeita e esse voto do Conselho de Segurança para justificar a invasão do Iraque pelo governo Bush.

Penso que se o Conselho de Segurança da ONU, por indicação de sua Comissão de Meio Ambiente, votar uma moção regulando o uso do Aqüífero Guarani ou ditando regras sobre a Bacia Amazônica, os americanos e europeus não hesitarão em transformar Copacabana em Bagdá. Brincadeira? Terrorismo? Não estamos longe disso e já vimos o filme.

Barbas de molho, sem trocadilho.

João Campos é advogado especialista em Direito do consumidor