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A viabilidade da agricultura ecológica

Desde o inicio dos anos 70 os encontros agronômicos no Brasil e no mundo tem sido palcos de apaixonantes e acirrados debates entre os defensores da agricultura química e da agricultura ecológica.
Antes de qualquer avaliação é importante definir para o leitor algumas características mais importantes das duas correntes antagônicas da agronomia.
Agricultura em essência não deixa de ser uma atividade extrativista. O homem aproveita o potencial fotossintético das plantas, transformando os minerais do solo, o carbono atmosférico e a água em alimentos e matérias primas diversas necessárias a vida humana.
A evolução da agricultura sempre aconteceu a partir de solo fértil e plantas geneticamente adaptadas as condições climáticas locais.
Nesta evolução, através de acertos e erros o homem descobriu que para conservar e melhorar a produtividade das culturas, era necessário retornar a matéria orgânica ao solo de cultivo.
A partir desta descoberta a adubação orgânica acompanhou o homem na sua agricultura, predominando até as primeiras décadas deste século, a idéia de que as plantas se alimentavam de matéria orgânica.
O químico alemão Liebieg, descobriu que as plantas não"comiam" matérias orgânicas e sim elementos químicos contidos no solo, e ai nasceu então a agricultura química.
A primeira substancia solúvel de composição simples usada como adubo foi o salitre do chile, nitrogenado que até então era somente usado na indústria da pólvora.
O efeito imediato de pequenas quantidades do salitre sobre o crescimento vegetativo das plantas foi um grande motivador para as pesquisas subsequentes do homem no caminho de simplificar e baratear a fertilização a produtividade dos solos, através de substitutos artificiais para o adubo orgânico.
Substância química simples, contendo os nutrientes minerais mais usados pelas plantas foram desenvolvidos e suas misturas em diferentes proporções foram formando as formulações dos adubos químicos mais conhecidos e utilizados até hoje pelos agricultores.
A popularização e invasão dos adubos químicos na agricultura brasileira se deu durante a fase do "milagre econômico Delfiniano", no início dos anos 70 no governo do general Nédici.
Esta invasão tecnológica do campo brasileiro foi orquestrado pelas multinacionais da indústria química e da mecanização e implementados pelos militares e tecnocratas do regime pós 64.
Vergonhosamente o crédito rural na época obrigava o agricultor a comprar pelo menos 15% do capital emprestado em agrotóxicos e adubos químicos. Além desta obrigação o governo subsidiava em 40% o custo deste insumo, criando facilidade e estimulando o agricultor a usá-lo sem critérios e geralmente em condições técnicas desnecessárias.
Enquanto as universidades massificaram a formação dosagrônomos, a Embrapa forjava com suas pesquisas técnicas o pacote pró multinacional da agricultura química para Embrater levar e implantar no campo brasileiro.
Como doses de psicotrópicos inicialmente gratuitos esse produtos acabaram por viciar o agricultor e suas lavouras.
Ao tentar repor com adubo químico os nutrientes, extraídos pela cultura e perdidos pela erosão e lixiviação do solo, o agricultor leva a carência de matérias orgânica e consequentemente ao definhamento da biologia da mesma.
A deterioração da biologia do solo leva ao desequilíbrio dasreações bioquímicas que bem alimentam as plantas e a perda da boa estrutura quebem areja e retém a umidade necessárias ao bom crescimento das mesmas.
Plantas desequilibradas fisionomicamente são vulneráveis ao ataque de pragas e doenças.
A agricultura química em sua visão reducionista procura erradicar as ervas invasoras, pragas e doenças vegetais pelo uso sistemático e violento dos agrotóxicos, o que leva a desequilíbrios mais sérios na fisiologia das plantas com mais pragas e doenças e infelizmente mais agrotóxicos e contaminação do solo, da água e do alimento.
O solo carente em grumus por falta de matéria orgânica se desestrutura tornando-se compactado ou pulverizado, sendo tomado por plantas invasoras, por erosão ou lixiviação.
Para adequar a estrutura do solo e preparar o leito de plantio, a agricultura química faz uso intensivo das práticas mecanizadas como: aração, gradeação, subsolação e escarificação, que justamente com as outras práticas de plantio, manejo sanitário e colheita, exigem máquinas pesadas e dependentes em petróleo.
A mecanização dispensadora de mão-de-obra, formou ecossistemas monoculturais simplificados e desencadeou o exodo rural, que foi o maior desiquílibrio social conhecido no país.
As levas da população rural, incharam de favelas as cidades com marginalização e especulação imobiliária, enquanto as posse da terras foram-se acumulando na mão dos grandes capitalistas.
Pela superficialidade das preocupações sociais e pelo descaso aos ciclos vitais básicos da natureza, esta agricultura tem levado a decadência da qualidade de vida de toda a humanidade com contaminação do meio ambiente, principalmente da cadeia viva, das águas, do solo e do alimento humano.
Erosão com perdas significativas de solos férteis com assoreamento de rios, represas e estuários com grande prejuízos para a navegação.
É citado na literatura a frustração de Liebieg, quando tomou consciência do tamanho blefe; decorrente de sua descoberta científica que foi agricultura química.
Por sua vez a agricultura ecológica, procura enxergar e entender o sistema produtivo de forma holística, desenvolvendo a auto-suficiência em anergia e insumos, através do aproveitamento e reciclagem de matéria prima produzida no local.
Formando agro-ecossistema e complexos a agricultura ecológica, emprega intensamente a mão-de-obra humana.
Para repor os nutrientes, a agricultura ecológica estimula constantemente o processo de gênese do solo, através da ativação da biologia com uso intensivo de matéria orgânica, plantas protetoras e recuperadoras do solo além de rochas moídas diversas.
Para conseguir o equilíbrio sanitário das culturas, a agricultura ecológica se vale de sementes rústicas e adaptadas as condições de solo e clima do agricultor, proporciona nutrição para as plantas além de criar micro reservas ecológicas a nível de propriedade e condições propicias para a proliferação dos inimigos naturais das pragas das áreas cultivadas.
Para restaurar possíveis desequilíbrios sanitários nas culturas, a agricultura ecológica se vale da rotação de culturas, consorciação com plantas companheiras, armadilhas luminosas atraentes e repelentes alimentares, extratos vegetais, minerais etc.
Para evitar a invasão de ervas, melhorar e manter a esrutura do solo adequando ao plantio, usa-se a cobertura morta e viva juntamente com adubo orgânico, práticas mecânicas leves e superficiais para não agredir o solo.
Se os órgãos públicos, efetivassem um gerenciamento competente dos recursos naturais, certamente todo o planejamento de ocupação do solo para a agricultura, deveria levar em consideração a preservação presente e futura do mesmo, já que após o ar e a água este é o recurso mais importante para a vida no planeta.
A crise econômica apesar de negativa, também participa na evolução da consciência humana. Os custos altíssimos do petróleo, dos adubos químicos e agrotóxicos têm sido os aliados mais fortes da Agricultura ecológica. Na comercialização a falta de garantia de preços suficientes para cobrir os altos custos de produção tem levado a agricultura ao desespero e fracasso financeiro.
O fato econômico é muito importante que qualquer argumento para o agricultor. Nesta hora de dificuldade com certeza o agricultor precisa refletir, e traçar o seu caminho.
Auto-suficiência de alimentos, anergia e adubos, diversificar a produção para ficar imune as crises setoriais de mercado.
Desenvolver uma tecnologia acessível as suas condições econômicas e equilibradas com o meio ambiente e com a sociedade que faz parte.
Integrado a produção animal com a produção agrícola o agricultor pode dispensar os adubos químicos pelo orgânico, e com economia direta poder investir no frete e na mão-de-obra que esse insumo exige no seu manuseio.
O lucro sem dúvida extravasa o presente, é garantia de vida para o solo e para as futuras gerações, sem dúvida a agricultura ecológica é mais do que viável é uma necessidade.

Valdo França é ecologista, eng.º Agrônomo; Criador e diretor da Escola Livre de Agricultura Ecológica.