Nas crises econômicas como a atual, a indústria da cultura, na qual se incluiu o setor editorial, pode ser mais duramente afetada do que outros segmentos. O problema tende a ser mais acentuado nas nações emergentes e nas que se encontram em desenvolvimento, de modo proporcional ao que se observa em tempos de vacas gordas. Afinal, as taxas históricas do nível de emprego e inclusão social têm efetiva congruência com os índices de leitura. O brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano. Na Alemanha, por exemplo, são 6,3 volumes por habitante/ano; na França, sete; na Itália, cinco; e nos Estados Unidos, 8,2.
É natural que um povo que ganha mais compre mais livros, assim como bens de consumo de um modo geral. Embora haja muita verdade nesta análise, não se pode ignorar que o nível de desenvolvimento das nações guarde estreita relação de causa-efeito com a cultura, a informação e o conhecimento. Assim, neste momento de adversidade macroeconômica, é imprescindível multiplicar os esforços voltados a estimular a indústria cultural e os livros, em particular, considerando seu significado para a democratização das oportunidades e a prosperidade socioeconômica do País. Em síntese, a crise não pode interromper ou abalar de modo grave o avanço da leitura e o acesso aos bens da cultura.
Dessa maneira, é necessário trabalhar muito no sentido de que o acesso ampliado ao livro e a todas as mídias gráficas, como jornais e revistas, seja um dos fatores de fomento econômico e social e até mesmo de enfrentamento da crise mundial. Para isso, são fundamentais algumas estratégias e ações que já vêm sendo realizadas pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e que devem como nunca, ser potencializadas: campanhas de incentivo ao hábito de leitura; manter, na totalidade dos mais de cinco mil municípios brasileiros, bibliotecas públicas com acervo mínimo de obras de ficção e não-ficção, didáticas e paradidáticas; incentivar a produção das pequenas editoras; viabilizar o mercado das livrarias de pequeno porte, em especial nos bairros das capitais e nas cidades menores; ampliar ainda mais o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); eliminar barreiras legais e/ou burocráticas injustificadas que prejudiquem o mercado editorial e dificultem o acesso da população ao livro.
No contexto dessas prioridades, há desafios relativos a ações de mercado, mobilização política perante os poderes constituídos e articulação do setor editorial com todos os outros segmentos da cadeia produtiva do livro. Essa tarefa está sendo cada dia mais intensificada pela CBL, no cumprimento de missão intrínseca às entidades de classe na economia contemporânea.
No universo da globalização, as entidades de classe não devem manter a antiga postura de representatividade passiva de um setor de atividade. É premente que trabalhem de maneira pró-ativa para estimular, defender, ter voz política e contribuir para o fortalecimento do segmento em que atuam seus associados. No caso do livro, este fiador do desenvolvimento e da justiça social, é decisiva a sinergia do mercado em torno de seus organismos representativos, de modo que todas as medidas e estratégias em curso tenham ainda mais força e possam mitigar os efeitos do crash financeiro mundial na produção editorial do País. Vencer tal desafio não é uma conquista importante apenas para editoras, livrarias, distribuidoras e creditistas, mas para toda a sociedade. Afinal, o conhecimento adquirido por uma pessoa é o único bem que crise alguma é capaz de depreciar!
Rosely Boschini é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL)