Em recente publicação do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o Brasil jamais terá uma participação tão significativa de adolescentes no total da população. São 21 milhões ― entre 12 e 18 anos ―, o equivalente a 11% da população brasileira. Esse momento singular representa uma grande oportunidade, mas também enormes vulnerabilidades, quando se vislumbra o futuro do país e do próprio adolescente.
Dos dez indicadores avaliados pelo UNICEF entre 2004 e 2009, oito registraram avanços. Como se parte de uma base anterior bastante comprometida, há pouco a se comemorar. Como alento, o UNICEF demonstra otimismo na implementação de políticas públicas em nosso país em relação à adolescência, pois nos últimos vinte anos fomos capazes de benfazejas realizações para com a infância, reduzindo a mortalidade infantil, diminuindo significativamente a mão de obra das crianças e praticamente universalizando o acesso ao Ensino Fundamental.
Hoje, 97,9% dos meninos e meninas de 6 a 14 anos frequentam a escola, em contraste com os 80% dos adolescentes que recebem alguma educação formal. A taxa de homicídios na faixa de 15 a 19 anos ― 43,2 para cada 100 mil adolescentes ― é o dobro da média da população. Um adolescente jovem e negro tem quatro vezes mais probabilidade de ser assassinado do que um branco da mesma idade. Pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde aponta que 26,8% da população sexualmente ativa teve a primeira relação antes dos 15 anos e que menos da metade (45,7%) fez uso de preservativo.
Com fulcro em estudos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, na última década houve um incremento de uma taxa média anual de 10% (perfazendo um contingente de 17.703) de adolescentes infratores submetidos a medidas de privação e restrição de liberdade.
O UNICEF recomenda políticas públicas específicas e a participação cidadã dos adultos e dos adolescentes, bem como convida a todos para uma reflexão sobre um novo olhar para essa faixa etária que “desloque o discurso que só vê a adolescência como um ‘problema’, para vê-la como uma oportunidade de desenvolvimento da personalidade. Uma fase especial até hoje não reconhecida plenamente: o direito de ser adolescente.”
Os adolescentes são um grupo em si e devem viver essa rica fase da vida em sua plenitude, sem que sejam tratados ora como crianças crescidas, ora como adultos infantilizados. As boas e más experiências em muito determinarão a grandeza do homem ou mulher que serão. Nosso papel é dialogar, respeitar, orientar, incentivar, a despeito das contestações e recusas.
Essa fase pode se tornar um laboratório para a vida adulta do nosso jovenzinho, desde que se lhe propicie um ambiente familiar e escolar com afeto, limites, tolerância, valores. Um ambiente salutar e rico, como um templo da argumentação, do embate, do convívio com o diverso e com o adverso.
Há mitos e preconceitos que precisam ser minimizados ou eliminados em relação aos adolescentes. Sempre há um pouco de hilário quando os denominamos “aborrecentes”. Retrucam eles, que nossas atitudes, sim, são de “velhice e pentelhice”. Nenhuma graça, porém, quando se considera a sua etiologia latina: adolescer, em que uma das acepções é adoecer (em referência à dor psíquica e emocional oriundas das transformações físicas e mentais dessa fase). Como se doente fosse, pelo comportamento arredio, rebelde, monossilábico, distante da família e a quase exclusividade à sua tribo, especialmente através das mídias sociais. Talvez seja a faixa etária na qual mais os pais erram, ou por excesso ou por carência de afeto e atenção, sendo comum uma educação concessiva e permissiva, não preparando para as adversidades da vida. Um futuro os aguarda com suas fortes exigências.
Jacir J. Venturi, diretor de escola,vice-presidente do Sinepe/PR e professor da UFPR e PUCPR