Esta pergunta me fiz durante os debates do 13º Congresso de Jornalismo Digital de Huesca, na Espanha, realizado nos dias 15 e 16 de março ultimo. A crise econômica que perpassa toda Europa, em especial a Espanha, a crise que perpassa a profissão jornalista em todo mundo, as transformações do fazer jornalístico incrementado pelas tecnologias da comunicação e da informação e as características do mercado de trabalho para os focas, ou seja, jornalistas recém-formados que, há muitos anos, tem, nas assessorias de imprensa as maiores e mais amplas oportunidades de trabalho; tudo isso obriga aos jornalistas e, principalmente, aos professores de jornalismo a fazer este questionamento.
Mesmo assim, qual a face, o perfil do jornalismo atualmente? A atividade jornalística hoje está permeada por dezenas, talvez centenas de características, propriedades que confundem o entendimento de muitos profissionais consagrados, e muito mais dos "focas". Há um saudosismo do jornalismo de rua, conforme mencionado em artigo anterior nesta coluna, que, com papel e caneta, se escreviam grandes reportagens. O desenvolvimento tecnológico atual permeia, se queira ou não, a produção jornalistica. É impossível deixar de lado todos os recursos, pelo menos os principais e a maioria, que enriquecem o texto jornalístico atual. O processo de produção industrial do jornalismo obriga os profissionais a dominarem esse contexto tecnológico, sob pena de serem excluídos deste universo.
Permeado por tantas propriedades, complexo devido a inúmeras possibilidades, incorporado recursos como áudio, vídeo, hipertexto, memória, instantaneidade, atualidade, interatividade e personalização fazem do jornalismo algo novo, diferente. E é importante ressalvar, não menos, mas muito mais importante para as sociedades democráticas atuais.
Com tudo isso, estará o profissional do jornalismo habilitado a desenvolver esta atividade, a sua atividade? No processo de formação profissional do jornalismo nas universidades, muitas vezes editores, diretores de empresas de mídia reclamam, e isso é contumaz e antigo, que muitos jornalistas “focas” não dominam a língua portuguesa! No caso do Brasil, isso é fato. O problema começa na precária educação básica, continua no ensino médio e o ensino superior, inúmeras vezes, se sente impotente para resolver o problema. Entretanto a formação superior em jornalismo não é qualquer curso, se trata de uma formação que o uso do idioma português é condição de trabalho. Neste caso, professores, dirigentes, coordenadores não podem compactuar com uma inadequada capacidade de domínio da gramática portuguesa. Se verifica, inúmeras vezes, professores que “mandam prá frente” alunos sem estas condições elementares. E, com razão, as empresas jornalísticas vão reclamar.
Outro ponto de tensão no jornalismo é a fronteira entre a produção da notícia como bem social e a difusão de informações de caráter privado. Ou seja, é tarefa do jornalismo colher a informação no meio social, tratar esta informação, ou seja, produzir e devolver à sociedade para que esta conheça os fatos que decorrem dos elementos políticos, econômicos, históricos e sócio-geográficos. De outro lado, há uma produção de informação de caráter privado, embora seja de interesse social, mas o interesse primeiro tem origem privada. Estudantes de jornalismo optam pela realização desta formação por motivações socio-democráticas em primeiro lugar. Se lamentam que, depois de anos de estudos, somente encontram oportunidades de trabalho na difusão privada da informação, fato atenuado pelos pseudos-estágios realizados nos últimos anos do curso.
A difusão privada de informação também é jornalismo? Entenda-se aqui difusão como sinônimo de produção. Das milhares de estruturas de difusão privada da informação, quantas relatam fatos, difundem informação contrária ou não exatamente de acordo com os interesses de suas corporações?
Eis aí o quadro complexo em que se encontra o fazer jornalístico nestes tempos. De qualquer forma, jornalismo é sinônimo de democracia e justiça, em qualquer lugar.