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Agronegócio e agricultura familiar: segmentos complementares

Nos últimos anos o Brasil vem conhecendo, ano a ano, números cada vez mais positivos alcançados pela agricultura e pela pecuária nacional.
Na terça-feira, 04, o jornal Valor Econômico reproduziu matéria sob o título “Brasil amplia liderança em superávit do campo”, abordando o assunto. Na matéria, a informação baseada em dados do Ministério da Agricultura que mostram um saldo comercial recorde, na ordem de US$ 71,9 bilhões, no período de 12 meses, encerrado em agosto, no setor agropecuário.
A matéria encerra uma verdade cada vez mais alvissareira para a agricultura e a pecuária nacional: a de que o setor lidera com folga e vantagem crescente sobre os concorrentes americanos no quesito geração de saldos comerciais. É verdade que no volume de exportações os Estados Unidos ainda está na frente. Porém, segundo projeções com bases reais, dentro de 10 anos o Brasil assumirá a posição de maior celeiro de alimentos do mundo, o que demonstra o acerto das políticas adotadas para o setor no governo Lula, agora seqüenciadas pelo governo Dilma.
Há, no entanto, quem procure fazer uma diferenciação que em nada corresponde à realidade, e que opõe o agronegócio à agricultura familiar. Tal oposição termina escondendo a ação unificada para o setor exercitada pelos governos petistas de Lula e Dilma, da qual o Brasil colhe os frutos, agora. Em função do crescimento nacional do movimento Grito da Terra, iniciado no Pará, foi criado o Ministério do Desenvolvimento Agrário, ainda no governo FHC, firmando-se, a partir de então, a idéia de que ao Ministério da Agricultura caberia a política dos ricos, e, ao MDA, a política dos pobres. Nada mais falso.
A verdade é que a política federal, imprimida a partir do governo Lula, nunca fez diferenciação entre os dois setores da agropecuária nacional. A luta dos agricultores e dos pecuaristas, grandes e pequenos, tendo que tirar da terra, sem subsídios (como é o caso de europeus e norte-americanos), e o interesse crescente do governo federal, desde 2003, para com a agricultura e a pecuária, tornou o agronegócio e a agricultura familiar brasileiras em um organismo produtor único, em ritmo crescente de eficiência.
O Partido dos Trabalhadores tem tudo a ver com isto, por conseguinte. Tanto assim que no interior da nossa sigla é progressiva a consciência de que a vitória do país no setor do agronegócio e da agricultura familiar é uma vitória das políticas públicas adotadas pelos governos petistas para a agricultura e a pecuária nacional. Quem se beneficia dos programas de combate às endemias, como a aftosa, no setor pecuário, do enfrentamento às pragas, na agricultura, tanto é o agronegócio quanto a agricultura familiar indiscriminadamente.
Quem se beneficia dos corredores de escoamento da produção que paulatinamente vão sendo ampliados no país, também é de forma geral tanto a agricultura familiar quanto o agronegócio. Quem é beneficiado pelos empréstimos abertos pelas instituições oficiais de crédito e as de fomento também é tanto o agronegócio quanto a agricultura familiar.
Não é correto, portanto, continuar alimentando a idéia, sem qualquer correspondência na prática, de que existe um ministério da direita, dos ricos, que seria o da Agricultura, e um da esquerda, dos pobres, que seria o do Desenvolvimento Agrário. A política desenvolvida pelos governos Lula e Dilma é dirigida, vitoriosamente, aos dois setores.
É uma só política, portanto, para dois setores que devem ser vistos, antes de tudo, como complementares, e, não, antagônicos, como querem alguns, tanto no campo da direita quanto no da esquerda. Uma visão tão míope, e tão prejudicial à compreensão da realidade brasileira, que precisa ser veementemente condenada, principalmente, pelo seu inquietante anacronismo.


Josias Gomes é deputado federal pelo PT da Bahia