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Opinião

"Agronegócio sem marketing não é um bom negócio"

O que significa marketing em síntese? Satisfação do cliente com lucro, registrou Peter Drucker. E o que é a satisfação de uma pessoa? É aquilo que ela percebe, dá valor, faz sentido para a sua visão de mundo, que conta na sua percepção. Ou seja, realidade é o que você percebe. Esse assunto vem de longa data, seja das histórias de Adão e Eva no paraíso, com a oferta do fruto proibido; passando pelos reis ao longo dos séculos, dando demonstrações de poder, servindo alimentos exóticos e de terras distantes aos convidados ilustres; continuou pela utilização do pau-brasil, que deu o nome ao nosso País, árvore cuja madeira permitia uma tintura vermelha associada à grande nobreza; e invadiu toda idade industrial com a sociedade do consumo de massa, dos fast foods, embutidos, enlatados, empacotados. Essa visão nos acompanha hoje na “hiperfragmentação” dos mercados em nichos e subnichos culturais, em voltas ao passado desde o artesanato, da arte do artífice, ao high tech da nanotecnologia e do “genemarketing “- o marketing do “gene” e de cada gene.
A missão do marketing é tornar a área de vendas desnecessária. Não que o papel do vendedor irá desaparecer. Ele só muda de posição e de cargo nas organizações.
O engenheiro é o vendedor, o designer é o vendedor, o geneticista é o vendedor, o produtor rural é o vendedor. Por que e como? Óbvio, o resultado da venda será cada vez mais dependente da capacidade da organização de toda a cadeia produtiva. O desejo e a atração do cliente nasce na criação do produto, no processo como é fabricado, na logística com que é distribuído e no design que já traz embutido no seu DNA.
À propaganda cabe ser cada vez mais generosa e amplificadora dessas virtudes interiores dos produtos e serviços. A propaganda falará cada vez menos dos produtos e cada vez mais do sentido e do significado da vida, como consumidor da marca e do produto. “Abra a Felicidade” como passou a falar a Coca-cola.
O agronegócio sem marketing é commodity. A luta é pela “des-commoditização”. A agricultura certificada, o diferente, o particular.
Os valores, a cultura, o “folclore”, o processo, o amor colocado e empregado na produção do alimento, desde a sua origem, contarão cada vez mais nas percepções dos consumidores finais.
O mundo não irá comer mais, precisará aprender a comer melhor. Do prato cheio ao prato saudável virá a grande transformação. A rastreabilidade é inevitável. A velocidade dessa mudança será exponencial. Em 2019 teremos ofertas abundantes de pré-preparados, ricos num conjunto de saúde, centenas de temperos, especiarias, sabores, apimentados, estimuladores do mais rebuscado prazer no paladar. Carnes em cortes, em formatos, apresentações, embalagens antidesperdício com total transparência de todo ciclo, ultrapassando a mesa do consumidor e conversando com os seus neurônios.
Estimulando olfato, tato e visual.
Até pouco tempo atrás, ninguém contava sobre a origem e o processo das matérias-primas vegetais e animais. Agora isso vai virar fator crítico de sucesso e diferencial competitivo em marketing. A disputa pelos mercados será cada vez mais transferida para os sonhos e as percepções dos consumidores finais, e cada vez menos questão efetiva e eficaz das “rodadas de Doha’s” e da lentidão dos governos e da diplomacia clássica na Organização Mundial do Comércio.
O desejo dos consumidores não para, é veloz e significa a real eletricidade dos mercados. Marketing é síntese. Somos todos vendedores. Agronegócio sem marketing nunca foi um bom negócio.


José Luiz Tejon é jornalista, publicitário e mestre em educação, arte e cultura pela Universidade Mackenzie