O combate ao desperdício se aprende de forma indireta na infância, quando os pais ensinam aos filhos que não se deve colocar no prato mais do que se vai comer (hoje, a lição é dada pelos restaurantes que servem comida a quilo) ou apagar a luz quando deixam o quarto. Porém, nesses tempos de consumismo exacerbado, produtos descartáveis e pais trabalhando fora do lar, os conselhos se perdem e a criança se faz adulto sem saber o quanto perde e o quanto deixa de ganhar com o (bom) combate ao desperdício.
Ontem e ainda hoje, quem vê um canteiro de obra, percebe o quanto se perde em tijolos, pedra e areia para levantar um prédio ou uma casa, sem falar no cimento, sempre preparado além das necessidades da construção. Nas fábricas, ocorre o mesmo, quando o pessoal da limpeza, ao fim do dia, recolhe ao lixo uma infinidade de peças não aproveitadas ou danificadas. Nos escritórios, os cestos de papéis servem de indicador, isso em plena era da informática.
No entanto, sabemos que o desperdício maior, em qualquer ramo de atividade, é invisível. Trata-se do tempo, “matéria-prima” jamais recuperada. As reuniões lideram as estatísticas, pois carecem de objetividade. Convoca-se ou convida-se sem informar o porquê da reunião, os objetivos. “Outros assuntos” ocupam um espaço inaceitável em tempos de gestão transparente. Não listam os temas e nem fixam os horários, de início e encerramento. Fala-se muito, decide-se pouco. E o tempo, que não cobra honorários no presente, revela sua conta de perdas no futuro.
Desse modo, deve-se estimular permanentemente a cultura do combate ao desperdício, precedido de estudo minucioso do cotidiano das organizações e da sua atividade-fim, desde o chão da fábrica até a sala do presidente, do posto de saúde ao gabinete do ministro. De desperdício, nós brasileiros, somos pós-graduados. Da colheita, no (mal) armazenamento, nas rodovias, nos gastos públicos, nas indústrias, nos shoppings, nos escritórios, nas residências…já ouvimos e vivenciamos.
Assim, a orientação deve ser cortar todos os gastos que não alterem ou prejudiquem a produção, os serviços, a comercialização, o atendimento, as pesquisas, a inovação, otimizando as atividades, tornando-as mais ágeis. Por exemplo, qualificando o quadro de funcionários para a execução de tarefas sem perda de tempo ou material, reduzindo os mecanismos de comunicação interna, descentralizando a gestão, delegando tarefas e, em alguns casos, terceirizando-as, quando desvinculadas da atividade- fim. Assegurar as 08 h de trabalho prazerosas, para quem passará 40 e mais anos ativo, e que já chega e vai sobre as rodas da estupidez do sistema de transporte.
Com essas e outras medidas, respeitando as especificidades de cada empresa e as suas metas, é possível desenvolver o processo de combate ininterrupto ao desperdício. Os resultados, em alguns casos, são imediatos e em outros aparecem a médio ou longo prazo.
Antes que seja tarde demais, é importante localizar o desperdício, com uma grande lupa, e extirpá-lo, moldando as organizações ao mundo globalizado e competitivo, implacável com o mau trato nas organizações, e abandonar a postura mais irresponsável que é do descarte, das demissões, do enxugar os postos de trabalho. O que mais à frente, é óbvio, diminui o consumo, não como opção, mas pelo desemprego.
Tudo isso, é claro, para quem não tem máquina de fabricar dinheiro ou de cobrar impostos.
Luiz Affonso Romano , presidente do IBCO diante de sua experiência em Consultoria há mais de 40 anos