Da mesma maneira que o fumante, o alcoólatra tem suas raízes fincadas ao engajamento no grupo e na necessidade de autoafirmação. Dessa forma, inúmeros indivíduos adquirem o hábito de beber socialmente. Destilando descontração, liberdade, coragem e tantas outras compensações, o álcool dá um frágil apoio ao ego dos que, iludidos, engolem esse sombrio aliado. A timidez é uma das maiores causas do alcoolismo. A falta de coragem diante de uma decisão a ser tomada, o relacionamento com o sexo oposto, ter que falar em público, enfim, toda vez que o sujeito fica em evidência, se inibe e se fecha, e envergonhado por sentir medo escapa, recorrendo ao “copo amigo”… Alegria, risos, euforia, relaxamento e ousadia, invadem a personalidade daquele que antes estava no gargalo do pavor. Porém, passando o efeito, tudo volta como antes, e de carona chega a ressaca, que deprime. O artifício o expôs e sua autocensura o condena, esse inferno vivido por quem busca na bebida uma saída acaba se tornando um ciclo vicioso. Mais lesivo que o tabagismo, o alcoolismo além de prejudicar o próprio indivíduo atinge o entorno de seu convívio. Um porre de ressentimentos desestabiliza a família. A aflição de ver uma vida se destruir, o vexame para com a sociedade, as desavenças e os filhos tendo um péssimo exemplo, convergem quase sempre a um triste desfecho, cruel e irreversível: a morte. E desse jeito, que pode até parecer exagerado, muitos chefes de família partiram desse mundo deixando um misto de dor, alívio e saudades…
No entanto, não devemos decretar a “lei seca” de modo irracional, misturando álcool e demônio no mesmo gole. Mas, sentir o prazer da degustação, montando no cavalo e não sendo por ele arrastado… Quem conhece seus limites, toma ciência do tamanho do seu copo e não o deixa transbordar, na sobriedade dosa suas doses…
José Antonio Séspedes é autor do livro “Depressão, um beco com saída”